Quando surgiu “a nega do cabelo duro”, cantada em “Fricote”,
marco do Axé Music, era difícil para seu intérprete, o cantor Luiz Caldas,
pensar na música baiana como é hoje. Há 30 anos, relembra, “era inimaginável
ter a nossa música em rede nacional, exibida em clipes no Fantástico, no Globo
de Ouro e etc”.
O sucesso daquele ritmo, ainda chamado de deboche, foi
surpreendente. “A nossa música conquistou o Brasil e as coisas foram acontecendo
naturalmente. Foi uma surpresa muito grande. O Axé passou a ser referência nos
anos 80 e hoje é gratificante vê no que aquele movimento se transformou”.
Nos bailes, onde a regra era cantar de tudo um pouco, Luiz
Caldas foi encontrando o caminho que o levaria a conquistar o título de “pai do
Axé Music”. “Foram essas as influências que levei para o trio Tapajós e lá a
gente começou a desenvolver um trabalho baseado nisso, em todo aquele samba, no
rock, no frevo, baião, salsa, tango e etc. Dessa mistura que a gente fazia
tocando nos bailes, surgiu uma nova batida, um jeito diferente, um ritmo novo”,
conta.
Em pouco tempo, todos estavam cantando "pega ela ai pra
passar batom"’ e "Fricote" se consolidou no repertório das
rádios pelo país. “Outras músicas foram surgindo, seguindo aquele ritmo, e tudo
foi se popularizando e ficando cada vez mais forte”.
E é essa popularidade que faz com que a história da Axé Music
esteja tão ligada ao carnaval. “O Carnaval e o Axé sempre foram muito íntimos.
Fico muito feliz que o prefeito ACM Neto tenha compreendido esse aspecto
plural, participativo da festa. Sempre cantei em trio independente, sempre fiz
o Carnaval para o folião-pipoca, essa foi uma marca que fiz questão de levar
comigo”, diz.
Luiz Caldas afirma que a decisão da Prefeitura em valorizar o
folião que curte na pipoca é acertada e resgata aspectos positivos dos velhos
carnavais. Seguindo a proposta de valorização da pipoca, somam 70 os trios que
desfilarão sem cordas nos dois circuitos.
Entre as atrações, artistas consagrados como Daniela Mercury,
Saulo Fernandes, Banda Eva, Banda Araketu. Além do próprio Luiz Caldas, que fez
a alegria do folião pipoca durante a abertura oficial da festa, no Circuito
Osmar.
“Vejo essa iniciativa de reaproximar os trios do povo como fundamental
para reoxigenar o Carnaval de Salvador. E, quando paramos para analisar, a
gente vê que é um ciclo: o público volta, o Carnaval se resgata, ganha mais
vida. Pois, quando o povo retorna às ruas, a alegria volta e carnaval é
alegria, o carnaval é a participação popular”, ressalta o multi-instrumentista,
que volta a tocar na folia momesca neste sábado (14), no início da noite, no
Circuito Dodô (Barra-Ondina).
Tribuna da Bahia