Neste
ano comemoramos 100 anos da Greve Geral de 1917, a primeira no Brasil, ocorrida
no período de formação da classe trabalhadora urbana, poucas décadas após a
abolição da escravatura e simultânea à chegada de imigrantes europeus ao País.
Da
bibliografia sobre o tema destacamos o livro de Paula Beiguelman, Os
Companheiros de São Paulo; O Ano Vermelho, de Moniz Bandeira, Clovis Melo e
A.T. Andrade; e o recém-lançado A Greve de 1917, os Trabalhadores Entram em
Cena, de José Luiz Del Roio.
A situação
dos trabalhadores de então era marcada pelo emprego de mulheres e menores em
larga escala, pelas precárias condições de trabalho nas fábricas – não havia
ventilação, a iluminação era irregular, as instalações sanitárias eram quase
sempre sujas e fétidas, as mutilações eram frequentes – e pela resistência da
burguesia na concessão de benefícios mínimos. O custo de vida aumentava dia a
dia e toda a produção era vendida para a Europa, então em guerra.
O
quadro não poderia dar em outra coisa que não um grande embate entre
trabalhadores e patrões, envolvendo toda a sociedade por cerca de um mês. O
movimento atingiu diversas categorias e contou com a participação de mais de 40
mil trabalhadores.
Em
15 de julho a greve foi encerrada com a conquista de 20% de reajuste e
promessas do governo da libertação dos presos durante o conflito e da
fiscalização do trabalho de menores e mulheres. Mas foi só o movimento se
assentar que patrões e governo retiraram as conquistas. O ganho político e a
experiência em organização eles não puderam retirar, e o movimento desencadeou
uma onda de greves no País que durou até 1920, revelando a emergência de um
forte movimento operário.
O
Brasil de hoje difere muito do de 1917. A desigualdade social ainda trava o
desenvolvimento do País, mas a situação dos trabalhadores não se compara à
miséria que levou à greve geral. O amadurecimento das instituições políticas e
sindicais separa o trabalhador de hoje daquele de 100 anos atrás. Contudo, lá
estava o embrião da organização operária brasileira.
João
Carlos Gonçalves – Juruna Secretário-geral da Força Sindical e vice-presidente
dos Metalúrgicos de São Paulo