Ao pensarmos sobre o
Carnaval, temos o hábito de considerá-lo como uma típica festa brasileira. A
presença dessa festividade em nossa cultura é tão grande que muitos chegam a
afirmar que o ano começa depois do Carnaval. No exterior, essa mesma festa se
transformou em um dos grandes referenciais da cultura brasileira. No imaginário
de muitos estrangeiros “carnaval” está entre as três primeiras palavras quando
o assunto é Brasil. No entanto, podemos afirmar que o carnaval não é uma festa
brasileira. Remontando pesquisas históricas que chegam até a Antiguidade
Clássica, temos informações que os festejos de carnaval passaram por muitas
transformações e se fez presente em diferentes culturas do mundo. Até chegarmos
ao Carnaval dos padrões hoje conhecidos, diferentes tipos de festa ocorreram
com o mesmo nome.
O carnaval é originário da
Roma Antiga e, incorporado pelas tradições do cristianismo, passou a marcar um
período de festividades que aconteciam entre o Dia de Reis e a quarta-feira
anterior à Quaresma. Em Roma, a Saturnália seria a festa equivalente ao
carnaval. Nela um “carro naval” percorria as ruas da cidade enquanto pessoas
vestidas com máscaras realizavam jogos e brincadeiras. Segundo outra corrente,
o termo “carnaval” significa o “adeus à carne” ou “a carne nada vale” e, por
isso mesmo, traz em sua significação a celebração dos prazeres terrenos. Em
outras pesquisas, alguns especialistas tentam relacionar as festas
carnavalescas com os rituais de adoração aos deuses egípcios Ísis e Osíris.
Mesmo contando com a
resistência de algumas alas mais conservadoras, o Carnaval passou a contar com
um período de celebração regular quando, em 1091, a Igreja oficializou a data
da Quaresma. Contando com esse referencial, o carnaval começou a ser usualmente
comemorado como uma antítese ao comportamento reservado e à reflexão espiritual
que marcam a data católica. Assim, a festa carnavalesca passou a ser
compreendida como um período onde as obrigações e diferenças do mundo cotidiano
fossem anuladas. Durante a Idade Moderna, os bailes de máscara, as fantasias e
os carros alegóricos foram incorporados à festa. Com o passar do tempo, as
características improvisadas e subversivas do Carnaval foram perdendo espaço
para eventos com maior organização e espaços reservados à sua prática. Grande
parte da inspiração do nosso carnaval contemporâneo foi trazida com a grande
influência que a cultura francesa teve no Brasil, principalmente, no século
XIX.
Atualmente, o prestígio
alcançado pelos desfiles de carnaval, principalmente no Rio de Janeiro e em São
Paulo, e a disseminação das chamadas micaretas trouxeram novas transformações
ao evento. Alguns críticos chegam a afirmar que o sentido popular da festa
perdeu lugar. Apesar dessas mudanças, esse quatro dias do calendário são
aguardados com muita expectativa. Seja pela expectativa do festejo, ou pelo
descanso.
Por Rainer Sousa
Mestre em História
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