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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

América Latina vive o fim da era dourada da esquerda no poder – Parte l




A derrota de Evo Morales no referendo boliviano, a quem muitos viam como o último moicano da esquerda bolivariana, marca uma mudança de ciclo evidente na América Latina, que começou com a vitória de Mauricio Macri na Argentina. Depois de anos de grande crescimento e inclusão social, a crise econômica e uma sociedade latino-americana nova, com gerações exigentes que demandam mais e melhor democracia e não toleram a corrupção nem o poder absoluto, estão derrubando um a um quase todos os Governos da região.
A Argentina viveu o início do eixo bolivariano, com a reunião de Mar del Plata de 2005, que marcou uma década de afastamento dos EUA e de políticas contrárias à ortodoxia econômica. O país austral também marcou o final, com a derrota do kirchnerismo em novembro passado, depois de 12 anos no poder. Só três semanas depois foi a vez das eleições na Venezuela, que representaram o princípio do fim do chavismo no poder com a conquista de dois terços do Parlamento pela oposição. Agora a Bolívia também diz não à continuidade de Morales depois de 2019. O presidente equatoriano, Rafael Correa, também com problemas, anunciou que não tentará a reeleição em 2017.  E em poucas semanas, em abril, o Peru deve concluir o ciclo com a saída de cena de Ollanta Humala e o provável regresso de um Fujimori ao poder.
O Brasil, por outro lado, vive uma crise política econômica e política permanente, e o Partido dos Trabalhadores, que governa o país há quase 13 anos, corre sérios riscos de não fazer um sucessor para a presidenta Dilma Rousseff em 2018, quando o ex-presidente Lula, que governou o país de 2003 a 2010, poderia se candidatar novamente. Mas, denúncias de corrupção ininterruptas na mídia que atingem o próprio Lula e outros membros do partido, além de uma recessão que já entra no seu segundo ano, reduzem as chances de que esse intento seja bem-sucedido.
Algo parece evidente: na América Latina há correntes de fundo. Nos anos noventa triunfou o liberalismo. O início do século XXI chegou com um forte grito anti-neoliberal. Agora há uma guinada à direita? Ninguém parece corroborar com essa tese. Os dados indicam, na verdade, que os cidadãos latino-americanos, sobretudo as novas gerações, depois de conseguir uma maior inclusão social e um aumento da classe média, querem mais, e se tornaram muito críticos com o poder. Reconhecem as conquistas de seus Governos mas não se conformam.

Continua a seguir...

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