Morales, por exemplo, tem
boa avaliação, poderia ganhar as eleições, mas quando esta semana perguntou-se
se a população lhe permitiria mais uma reeleição, a ideia foi rechaçada com
51,3%. Querem mudança. Na Argentina, aconteceu algo parecido. Cristina
Fernández de Kirchner tinha uma alta avaliação, mas, quando quis mudar a
Constituição para poder continuar, perdeu em 2013 as eleições intermediárias,
propostas quase como um plebiscito. Os dados indicam, na verdade, que os
cidadãos latino-americanos, sobretudo as novas gerações, depois de conseguir
uma maior inclusão social e um aumento da classe média, querem mais, e se
tornaram muito críticos com o poder.
Em todos os países há uma
linha comum: os protestos exigem maior transparência, luta contra a corrupção e
uma troca geracional. A Bolívia foi o país com maior crescimento econômico do
eixo bolivariano. No entanto, como aconteceu a seus correligionários, diante do
enfrentamento da economia e do surgimento de casos de corrupção, optou por
defender-se recorrendo a um discurso do qual os cidadãos parecem já cansados:
uma conspiração orquestrada pelos EUA.
O fim da década dourada das
matérias-primas também tem muito a ver com esta mudança de ciclo. As economias
latino-americanas cresceram, entre 2003 e 2012, acima de 4%, segundo dados da
CEPAL. Desde os anos sessenta, a região não registrou um período tão intenso.
No entanto, as previsões do Fundo Monetário Internacional destacam que a
economia latino-americana acabará 2016 com uma recessão do 0,3%. A queda das
matérias-primas é a principal causa. Entre 2011 e 2015, a queda dos preços dos
metais e da energia (petróleo, gás e carvão) foi de quase 50%, segundo a CEPAL.
Só em 2015, os produtos energéticos caíram 24%.
Estes anos de bonança e
Governos de esquerda mudaram muitas coisas no continente. Durante a década de
ouro, entre 2002 e 2012, os níveis de pobreza caíram de 44% para 29%, enquanto
que os de pobreza extrema diminuíram de 19,5% para 11,5%, com um aumento
considerável das classes médias. Também houve um aumento notável do gasto
público. E isso implicou em inclusão social. Uma amostra: entre 1999 e 2011,
segundo a Unesco, o nível de escolarização inicial passou de 55% a 75%. No
entanto, os cidadãos não se conformam. Querem mais e melhor. E tudo indica que
quase nenhum Governo ficará em pé diante desta onda.
Por Carla Jiménez
Nenhum comentário:
Postar um comentário