Neste dia,
Sexta-feira Santa, que os antigos chamavam de “Sexta-feira Maior”, quando
celebramos a Paixão e Morte de Jesus, o silêncio, o jejum
e a oração devem marcar este momento. Ao contrário do que
muitos pensam, a Paixão não deve ser vivida em clima de luto, mas de profundo respeito e meditação diante da morte
do Senhor que, morrendo, foi vitorioso e trouxe a salvação para todos,
ressurgindo para a vida eterna.
É preciso
manter um “silêncio interior” aliado ao jejum e à abstinência de carne. Deve
ser um dia de meditação, de contemplação do amor de Deus que nos “deu o Seu
Filho único para que quem n’Ele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo
3,16). É um dia em que as diversões devem ser suspensas, os prazeres, mesmo que
legítimos, devem ser evitados.
Outra
possibilidade será usar um livro para meditação como “A Paixão de Cristo
segundo o cirurgião”, no qual, o Dr. Pierre Barbet, francês, depois de estudar
por mais de vinte anos a Paixão, narra com detalhes o sofrimento de Cristo. Tudo isso deve nos levar a amar
profundamente Jesus Crucificado, que esvaziou-se totalmente para nos salvar de
modo tão terrível. Essa meditação também precisa nos levar à associação com a
Paixão do Senhor, no sentido de tomar a decisão de “gastar a vida” pela
salvação dos outros. Dar a vida pelos
outros, como o Senhor deu a Sua vida por nós. “Amor só se paga com amor”, diz
São João da Cruz.
A meditação da Paixão do
Senhor deve mostrar-nos o quanto é hediondo o pecado. É contemplando o Senhor
na Cruz, destruído, flagelado, coroado de espinhos, abandonado, caluniado,
agonizante até a morte, que entendemos quão terrível é o pecado. Não é sem razão que o Catecismo diz que pecado é “a
pior realidade para o mundo, para o pecador e para a Igreja”. É por isso que
Cristo veio a este mundo para ser imolado como o “Cordeiro de Deus que tira o
pecado do mundo” (Jo 1,29). Só Ele poderia oferecer à Justiça Divina uma
oblação de valor infinito que reparasse todos os pecados de todos os homens de
todos os tempos e lugares.
O ponto
alto da Sexta-feira Santa é a celebração das 15 horas, horário em que Jesus foi
morto. É a principal cerimônia do dia: a Paixão do Senhor.
Ela consta de três partes: liturgia da Palavra, adoração da cruz e comunhão
eucarística. Nas leituras, meditamos a Paixão do Senhor, narrada pelo
evangelista São João (cap. 18), mas também, prevista pelos profetas que
anunciaram os sofrimentos do Servo de Javé. Isaías (52,13-53) coloca, diante de
nossos olhos, “o Homem das dores”, “desprezado como o último dos mortais”,
“ferido por causa dos nossos pecados, esmagado por causa de nossos crimes”.
Deus morreu por nós em forma humana.
Neste dia, podemos também meditar, com
profundidade, as “sete palavras de Cristo na Cruz” antes de sua morte. É como
um testamento d’Ele:
“Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem”;
“Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso”;
“Mulher, eis aí o Teu filho (…) Eis aí a Tua Mãe”;
“Tenho Sede!”;
“Eli, Eli, lema sabachtani? – Meu Deus, Meu Deus, por que Me
abandonastes?”;
“Tudo está consumado!”;
“Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito!”.
À noite, as paróquias fazem encenações da Paixão de
Jesus Cristo com o sermão da descida da Cruz; em seguida, há a Procissão do
Enterro, levando o esquife com a imagem do Senhor morto. O povo católico gosta
dessas celebrações, porque põe o seu coração em união com a Paixão e os
sofrimentos do Senhor. Tudo isso nos ajuda na espiritualidade deste dia. Não há
como “pagar” ao Senhor o que Ele fez e sofreu por nós; no entanto, celebrar com
devoção o Seu sofrimento e morte Lhe agrada e nos faz felizes. Associando-nos,
assim, à Paixão do Senhor, colheremos os Seus frutos de salvação.
Fonte: Canção Nova