Não só a cantora Anitta, mas boa parte das mulheres brasileiras
não sabe que o autoexame das mamas já deixou de ser indicado para identificar e
prevenir o câncer de mama. No clipe da canção recém-lançada, “Atención”, de seu
mais novo álbum, a artista pop e outras mulheres aparecem fazendo o autoexame,
como um alerta. No entanto, segundo o Ministério da Saúde e a Sociedade
Brasileira de Mastologia (SBM), o método, que já foi bastante preconizado,
ajuda a conhecer o próprio corpo, mas não substitui o exame clínico das mamas. O
presidente da SBM, Antônio Frasson, explica que o autoexame deixou de ser
recomendado em países mais desenvolvidos há mais de dez anos por não ser capaz
de descobrir tumores de até 1 centímetro. Ao se autoapalpar e não identificar
nenhuma alteração, a preocupação é que mulheres deixem de procurar atendimento
médico e de fazer exames de detecção. Falhas neste rastreamento e a lentidão
entre a confirmação e o tratamento contribuem para a mortalidade.
“O autoexame não é capaz de identificar lesões pré-malignas,
lesões muito pequenas, antes de se tornarem câncer, propriamente dito, ou seja,
não consegue descobrir as lesões quando elas podem ser tratadas mais
facilmente”, afirma Frasson. Segundo ele, o autoexame só é preconizado onde não
existe mamografia ou outro método de diagnóstico. A Europa e Estados Unidos,
por exemplo, cita, não recomendam mais o autoexame. Na Índia, onde não há
mamografia acessível, o método ainda é utilizado, mas para evitar complicações
do câncer de mama. A SBM avalia que a falta de informação sobre o câncer de
mama atrapalha o diagnóstico e o tratamento. Para atualizar a sociedade sobre a
doença, a entidade faz uma pesquisa online. No questionário, os profissionais
também querem saber se as mulheres confiam no autoexame como forma de prevenir
a doença. Eles também querem identificar gargalos que atrasam o acesso aos
mamógrafos e o tempo que a paciente pode ter de esperar entre a confirmação e o
início do tratamento. Esse tempo, não pode passar de 60 dias por determinação
legal.
“Temos alguns levantamentos brasileiros mostrando que no sistema
público os tumores são diagnosticados de forma tardia e que, quando existe uma
queixa, de nódulo na mama, ou existe queixa de alteração no seio, há uma demora
no diagnóstico. As mulheres têm dificuldade de marcar mamografia, biópsia,
agendar consulta com especialistas. Então, queremos entender, em diferentes
regiões e perfis de pacientes, aprender, como agilizar as duas etapas”, explica
o médico.
Com a pesquisa, a primeira da SBM que consulta
diretamente as mulheres, há ainda perguntas acerca de sinais, sintomas, fatores
de risco e eficiência de campanhas. Para responder, é preciso ser mulher, ter
mais de 18 anos e cerca de dez minutos disponíveis. O resultado deve ser
anunciado até o fim deste mês. O questionário está disponível
na internet.
O Ministério da Saúde e o Instituto Nacional de Câncer (INCA)
confirmam a orientação da SBM sobre o autoexame. Orientam a mulher a apalpar as
mamas sempre que se sentir confortável, a qualquer tempo, sem nenhuma
recomendação técnica específica ou periódica. Os dados oficiais mostram que é
mais comum mulheres identificarem caroços no seio casualmente (no banho ou na
troca de roupa) do que no autoexame mensal. A mudança, de acordo com o
ministério, surgiu do fato de que, na prática, muitas mulheres descobriram a
doença a partir de uma observação casual e não por meio de uma prática
sistemática de se autoexaminar. Outra recomendação é que mesmo sem sintomas,
mulheres a partir dos 40 anos façam anualmente o exame clínico das mamas e
aquelas entre 50 e 69 anos, no caso de baixo risco, se submetam a mamografia,
pelo menos, a cada dois anos. Esta periodicidade leva em conta benefícios e
riscos da mamografia, que é um raio-X capaz de identificar tumores pequenos. Já
mulheres consideradas de alto risco devem procurar acompanhamento
individualizado. Este grupo inclui aquelas com história familiar de câncer de
mama em parente de primeiro grau antes dos 50 anos.
O câncer de mama é o tipo de câncer mais frequente na mulher
brasileira, com alta letalidade. Nesta doença, ocorre um desenvolvimento
irregular das mamas, que se multiplicam até formar um tumor maligno. Os médicos
não identificaram as causas precisas da doença, mas alertam para o crescente
número de mulheres abaixo de 40 anos em tratamento.
Hábitos saudáveis e uma rotina de exercícios são as principais
recomendações para evitar qualquer tipo de câncer. O tratamento pode variar
entre cirurgia e quimioterapia.
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