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quinta-feira, 14 de julho de 2016

Alice vence Lídice e confusão se arma – Por Raul Monteiro




A desistência de Lídice da Mata (PSB) de concorrer à Prefeitura de Salvador pode ter representado uma primeira vitória do projeto do PCdoB de fazer de Alice Portugal (PCdoB) a mais representativa candidata das esquerdas à sucessão municipal. Mas está longe de lhe assegurar o poder de se constituir como uma candidatura da unidade das forças de oposição ao prefeito ACM Neto (DEM), a despeito de o PT já ter sinalizado que pode apoiá-la. O sentido de derrota com que Lídice deixou o processo é um péssimo sinal para Alice.
Aliados da senadora acham que ela dificilmente irá hipotecar apoio à candidatura comunista, podendo, inclusive, fazer um movimento mais à esquerda de Alice, dos quais eventuais nomes do PSOL e da Rede, se por acaso se lançarem na disputa, podem ser uma opção de apoio. O que Lídice, uma senadora da República, gostaria de demonstrar com a hipotética atitude é difícil de interpretar, mas resta transparente que a derrota da idéia de se transformar na candidata da unidade no lugar da deputada federal do PCdoB frustrou-lhe.
Não foi apenas Lídice que Alice e o PCdoB descontentaram. Habitualmente contido, o governador Rui Costa (PT) fez questão de deixar claro que não aprova o jogo dos comunistas de empurrarem a candidatura da parlamentar goela abaixo das oposições em entrevista no final de semana passado, na qual fez questão de ressaltar sua preferência pelo nome de sua auxiliar Olívia Santana (PCdoB), mesmo sabendo que ela estava inelegível por não ter se desincompatibilizado da secretaria estadual de Política para as Mulheres no prazo exigido por lei.
Foi uma forma inequívoca de enfatizar sua desaprovação. Desde que viu fracassarem seus planos de apresentar um candidato do PT com densidade eleitoral às eleições, Rui se convenceu de que a melhor opção seria apoiar Olívia por considerar que ela, sendo mulher, negra e de origem humilde, cumpriria melhor o papel de fazer o chamado “Nós contra Eles” em relação a ACM Neto, homem, branco e rico. Para tanto, liberou sua articulação política e o próprio PT no sentido de convencerem os partidos aliados a se aliançarem em torno da secretária.
Por razões de economia interna, possivelmente uma dívida de compromisso com Alice, o PCdoB avançou com seu nome para a disputa, desconsiderando o jogo que o PT e o governo pretendiam armar tendo os comunistas como centro e Olívia como sua representante. Ato contínuo, o partido ainda conquistou a adesão a Alice do PSD, do senador Otto Alencar, o que, como os fatos mostraram, tornaria um recuo seu impossível. Rui, justificadamente, descomprometeu-se com o processo, liberou os partidos para jogarem por conta e risco e o resultado é a confusão que armou-se. Entre todos, no entanto, o PCdoB e Alice terão que arcar sozinhos com a ousadia.


Artigo publicado originalmente no jornal Tribuna da Bahia

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