O seu Gonçalves recebeu o
sobrinho para uma temporada de férias no sítio. Era sempre assim, quando
entrava de férias o sobrinho Eurico vinha para o interior. Andando pelos
campos, sabe como é estudante em férias, onde o tio ia ele ia atrás. Tinham ido
levar sal para um gado que ficava num pasto distante da sede da propriedade.
Era de tarde, e para aproveitar bem a presença no campo, que é sempre
agradável, eles foram e estavam voltando a pé. Desde que deixaram o pasto, o
sobrinho deu de testar a inteligência do tio. O tio caía em todas. Assuntos de
física quântica, física não sei das quânticas, pressão tromosférica, urânio,
bomba atômica. E o sobrinho ia tirando uma com o tio em todas. O tio só de rabo
de olho nele. E o sobrinho perguntava se o tio sabia o que era cálcio, e o tio
não sabia, e era aquela gozação.
Passando próximos de uma
árvore bem folhada e frondosa, o tio parou e falou: -Sobrim, ta veno essa arve?
-Estou sim, tio. -Essa arve dá caneta. -Ah, tio, é invenção sua! -To ti falano,
essa arve dá caneta. -Não acredito! -To te falano. U teu tio ia minti pro ce!
Vai lá di baxo e conferi. É qui já foi u tempo de caneta, mais as veis o ce
consegue vê arguma qui num caiu. O sobrinho foi até embaixo da árvore. Deu
certo que era uma amoreira em fim de tempo de amora, tinha só umas espalhadas
aqui e ali.
Deu certo que tinha um
sanhaço num galho acima, e sabe como é, deu uma soltada, sabe como é
passarinho, não sabe segurar vontade. Tpéf! Uma daquelas borradas de acertar em
cheio. Bem no ombro do sobrinho. Uma roda assim azulada da fermentação das
amoras que ele tinha comido. O seu Gonçalves não agüentou, já logo gritou: -Ah
meu sobrinho, acontece de arguma tá sem tampa!
Contado por Leomar Baraldi
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