Bordados tradicionais
inspirados em orixás foram exibidos durante o desfile que marcou o encerramento
do projeto 'Richelieu e Bordados Ancestrais', na noite de quinta-feira (20), no
Instituto Goethe, em Salvador. As vestimentas, coloridas e ricas em detalhes,
foram confeccionadas por representes de terreiros de candomblé, que passaram
por capacitação ao longo dos mais de seis meses de projeto. A confecção foi
feita utilizando o Richelieu - uma técnica francesa que garantiu a
sobrevivência de ex-escravas após a abolição. Pouco conhecida entre os baianos,
a técnica consiste em, manualmente, cortar espaços vazios do tecido e, entre
eles, construir bordados, vazando áreas estratégicas e garantindo a formação
das estampas. A tradição foi resgatada por meio do projeto, desenvolvido com
apoio da Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Estado (Setre),
que tem como objetivo estimular a economia solidária no estado.
"O negro tem muito
potencial criativo, o que eles sempre precisaram foi de incentivo. O Governo do
Estado enxergou isso e está apoiando. Isso vai ajudar a potencializar as
produções por representantes de religiões de matrizes africanas, garantir a
renda deles e resgatar a autoestima", afirma o superintendente de Economia
Solidária da Setre, Milton Barbosa. O projeto foi um dos 54 classificados pelo
Edital de Apoio aos Empreendimentos de Economia Solidária de Matriz Africana,
lançado em 2014 pelo Governo da Bahia. Ao todo, mais de 60 pessoas foram
capacitadas a bordar utilizando o richelieu. Uma das beneficiadas foi dona
Raimunda Valdete, de 64 anos. Ela sofre de problemas de articulações, mas ao
lutar por uma nova profissão melhorou os movimentos.
"Sou cozinheira
aposentada e agora tenho uma nova profissão. Nunca tinha bordado e me
apaixonei. Melhorou até os movimentos das minhas mãos. Me sinto bem para fazer
bordados com richelieu até o fim da vida", afirma. O projeto foi
implementado em uma rede de seis terreiros de candomblé, capitaneados pelo Ilê
Axé Ya Onira, formando o núcleo produtivo, e os núcleos comerciais com os
outros terreiros. O desfile com peças produzidas ao longo de um ano do projeto
foi uma oportunidade para o público ver o resultado do trabalho e entender como
uma antiga tradição francesa vem sendo resgatada, por meio das comunidades
afrodescendentes baianas.
No próximo dia 22, o público
poderá adquirir as peças feitas pelas artesãs em uma feira que vai acontecer na
sede do Ilê Axé Yá Onira, das 10 às 15h, com preços acessíveis. Nas duas
iniciativas, a proposta é dar visibilidade aos primeiros trabalhos resultantes
do projeto. "O projeto foi uma forma de inclusão para essas pessoas, que
hoje têm alternativas para escolher como viver da melhor maneira para ser feliz.
Vão poder se sustentar com o próprio trabalho e isso é muito bom",
enfatiza o babalorixá Roberto de Iansã.
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