O livro cita o Relatório
Hursti, da ONG Black Box Voting, dos EUA, em que testes de penetração nas
urnas-e TXs da Diebold demonstraram que é perfeitamente possível se adulterar
os programas daqueles modelos de forma a desviar votos numa eleição normal
(página 25). Pelo menos 375 mil das 426 mil urnas que serão utilizadas nas
eleições de 2006 são fabricadas pela Diebold. Elas foram, por esses motivos,
recusadas tanto nos EUA quanto no Canadá.
É óbvio que a fraude não
necessariamente ocorrerá. É óbvio que a grande maioria dos membros do TSE e dos
TREs, desde o mais até o menos graduado, é honesta e, por isto, podemos dormir
em paz pelo menos metade da noite. Sei disso porque fui Juiz Eleitoral em Iraí,
Espumoso, Novo Hamburgo (onde presidi o famigerado recadastramento eleitoral,
saudado como um golpe às falcatruas que se revelou frustrante ao abolir a foto
de eleitor no título e abriu o caminho para outras fraudes) e em Porto Alegre.
Era Juiz quando pela primeira vez foi utilizada, no Brasil, a urna eletrônica,
isto em 1996, e não percebi nada de anormal.
Aqueles eram outros tempos e
a novidade da máquina deslumbrava a todos e era tida e havida como segura,
principalmente pela atuação do pessoal encarregado de sua manipulação. Mas
depois que se descobriu que o Poder Judiciário não é imune à corrupção -
veja-se o caso de Rondônia - nada é impossível, principalmente em matéria
eleitoral. Por isto é incompreensível a negativa do TSE em admitir o teste
requerido e, o que é pior, insistir em utilizar a Urna-E Virtual com apoio na
Lei n. 10.740/03, aprovada de afogadilho e sem o merecido debate, ao invés da
mais segura Urna Eletrônica Real.
Se não é certo, em Direito,
dizer que quem cala consente é, todavia, correto dizer que quem obsta o
exercício de um direito é porque tem algo a esconder. Ou, por outra, que há
alguma coisa que aconselha a ocultação. Ou porque - e agora estou me referindo
ao caso concreto - se intui que pode haver algo de podre no seio da urna
eletrônica que poderia provocar severas desconfianças às vésperas do pleito.
Lígia Ferreira/Folha
Política
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