Dada como
enterrada após as prévias partidárias que escolheram Jilmar Tatto, a
candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo voltou a dominar as
conversas dentro do PT.
Mandachuva
da sigla, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está sendo pressionado a
fazer o ex-prefeito paulistano reconsiderar a ideia de disputar novamente o
cargo que ocupou de 2013 a 2016.
O motivo é a percepção crescente, no partido, de que a
candidatura de Tatto transformará o PT de São Paulo numa versão da sigla no Rio
de Janeiro: uma linha auxiliar eleitoral do PSOL.
Ela é amparada em pesquisas. Sondagens internas, não só
do partido mas também de seus concorrentes, indicam que hoje o ex-deputado
estadual Tatto teria algo como 3% das intenções de voto, embolado com nomes com
potencial maior para crescer, como o da deputada federal Joice Hasselmann
(PSL).
Considerando
que ele tentou eleger-se em 2018 com o mote "o senador do Lula", a
indicação de recall eleitoral é mínima. Naquele pleito, Tatto ficou em sétimo
lugar, com apenas 6% dos votos.
Guilherme Boulos (PSOL), que disputou a Presidência
naquele ano, surge com o dobro das intenções de voto, na mesma faixa de outro
nome mais conhecido, Andrea Matarazzo (PSD).
A pressão contra Tatto vinha desde antes das prévias,
vencidas por ele em maio. Agora, é conduzida por diversas frentes.
Da cúpula do PT veio o recado mais público, na forma de
declarações do jornalista Breno Altman, considerado um porta-voz informal do
grupo, a sites de esquerda nesta semana. Ele afirmou que, se Haddad não
reconsiderar, o partido deveria de cara apoiar a chapa do PSOL, com Boulos e a
ex-prefeita Luiza Erundina.
Outros movimentos são de bastidor. A bancada de
vereadores do partido fez chegar a Lula a avaliação que ela pode ser reduzida à
metade com uma candidatura Tatto -hoje são 9 de 55, a segunda da Câmara
Municipal.
Também
se queixam candidatos a prefeito do PT de cidades da Grande São Paulo, cujas
campanhas têm grande simbiose com as da capital. Querem Haddad nomes como o
Emídio de Souza (Osasco) e Elói Pietá (Guarulhos).
Apenas Luiz Marinho, que disputará em São Bernardo do
Campo, se mantém fiel ao antigo aliado Tatto entre os nomes de peso do entorno.
Expoentes do interior, como o prefeito Edinho Silva (Araraquara), também temem
a desidratação petista no partido.
O PT nunca teve musculatura, mesmo no auge da era Lula,
para chegar ao governo paulista. Mas a capital, maior cidade do país e vital
para qualquer articulação nacional em 2022, sempre foi um ponto forte.
Isso até 2016, quando o desgaste que levou ao impeachment
da presidente Dilma Rousseff ajudou o mal-avaliado Haddad a nem forçar um
segundo turno, recebendo 16,7% dos votos e vendo João Doria (PSDB) eleger-se.
Lula
sabe que as chances de o PT voltar ao poder paulistano são mínimas, mas um
desempenho marginal condena a estratégia partidária, o longo prazo. Por outro
lado, sua insistência inicial para que Haddad fosse candidato não deu em nada.
O ex-prefeito sonha em ser novamente o preposto do chefe
petista, cuja candidatura à Presidência é altamente improvável por suas
condenações judiciais, em 2022, como foi em 2018. Calcado no nome do
ex-presidente, chegou ao segundo turno e teve 44,9% dos votos, auxiliando a formar
uma bancada robusta no Congresso.
Bastidores
do Poder