“Sempre que o STF profere
alguma decisão bizarra, o povo logo se apressa para sentenciar: “a Justiça no
Brasil é uma piada”. Nem se passa pela cabeça da galera que os outros juízes –
sim, os OUTROS – se contorcem de vergonha com certas decisões da Suprema Corte,
e não se sentem nem um pouco representados por ela.
O que muitos juízes sentem é
que existem duas Justiças no Brasil. E essas Justiças não se misturam uma com a
outra. Uma é a dos juízes por indicação política. A outra é a dos juízes
concursados. A Justiça do STF e a Justiça de primeiro grau revelam a existência
de duas categorias de juízes que não se misturam. São como água e azeite. São
dois mundos completamente isolados um do outro. Um não tem contato nenhum com o
outro e um não se assemelha em nada com o outro. Um, muitas vezes, parece atuar
contra o outro. Faz declarações contra o outro. E o outro, por muitas vezes,
morre de vergonha do um. Geralmente, o outro prefere que os “juízes” do STF
sejam mesmo chamados de Ministros – para não confundir com os demais, os
verdadeiros juízes. A atual composição do STF revela que, dentre os 11
Ministros (sim, M-I-N-I-S-T-R-O-S!), apenas dois são magistrados de carreira:
Rosa Weber e Luiz Fux. Ou seja: nove deles não têm a mais vaga ideia do que é
gerir uma unidade judiciária a quilômetros de distância de sua família, em
cidades pequenas de interior, com falta de mão-de-obra e de infra-estrutura,
com uma demanda acachapante e praticamente inadministrável.
Julgam grandes causas – as
mais importantes do Brasil – sem terem nunca sequer julgado um inventariozinho
da dona Maria que morreu. Nem uma pensão alimentícia simplória. Nem uma medida
para um menor infrator, nem um remédio para um doente, nem uma internação para
um idoso, nem uma autorização para menor em eventos e viagens, nem uma
partilhazinha de bens, nem uma aposentadoriazinha rural. Nada. NADA.
Continua a seguir...