Certamente não fazem a menor
ideia de como é visitar a casa humilde da senhorinha acamada que não se mexe,
para propiciar-lhe a interdição. Nem imaginam como é desgastante a visita
periódica ao presídio – e o percorrer por entre as celas. Nem sonham com as
correições nos cartórios extrajudiciais. Nem supõem o que seja passar um dia
inteiro ouvindo testemunhas e interrogando réus. Nunca presidiram uma sessão do
Tribunal do Júri. Não conhecem as agruras, as dificuldades do interior. Não
conhecem nada do que é ser juiz de primeiro grau. Nada. Do alto de seus carros
com motorista pagos com dinheiro público, não devem fazer a menor ideia de que
ser juiz de verdade é não ter motorista nenhum. Ser juiz é andar com seu
próprio carro – por sua conta e risco – nas estradas de terra do interior do
Brasil . Talvez os Ministros nem saibam o que é uma estrada de terra – ou nem
se lembrem mais o que é isso. Às vezes, nem a gasolina ganhamos, tirando muitas
vezes do nosso próprio bolso para sustentar o Estado, sem saber se um dia
seremos reembolsados - muitas vezes não somos.
Será que os juízes, digo,
Ministros do STF sabem o que é passar por isso? Por que será que os réus lutam
tanto para serem julgados pelo STF (o famoso “foro privilegiado") –
fugindo dos juízes de primeiro grau como o diabo foge da cruz? Por que será que
eles preferem ser julgados pelos “juízes” indicados politicamente, e não pelos
juízes concursados?
É por essas e outras que,
sem constrangimento algum, rogo-lhes: não me coloquem no mesmo balaio do STF.
Faço parte da outra Justiça: a de VERDADE.''
Juíza Ludmila Lins Graça
Esse texto, conforme a
autora foi escrito em dezembro de 2016
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