Os depoimentos de delatores
da Odebrecht foram a gota d'água no processo de desgaste da classe política
tradicional, que precisará daqui para a frente adotar um discurso de centro e
evitar a polarização para sobreviver, dizem marqueteiros. Para eles, as
candidaturas em 2018 serão construídas em cima de atributos pessoais. Vencerá
aquele que conseguir superar a antipolítica, criando identificação direta com o
eleitor desiludido e mostrando uma plataforma que prometa resolver seus
problemas cotidianos. Por esse raciocínio, a polarização, acentuada a partir
das manifestações de 2013, chegou ao ápice, e o centro se esvaziou. Para evitar
a ascensão de populistas, que se aproveitarão da corrosão do sistema
partidário, os candidatos das vias tradicionais terão de construir pontes.Resta
saber quem sobreviverá à Operação Lava Jato.
"A desilusão do eleitor
é violenta, tem muita gente que não quer votar em ninguém. É natural que essa
massa crescente de indecisos busque alguém no centro, com quem se
identifique", disse o publicitário Chico Mendez.
"Você gera
identificação quando o candidato se apresenta no mesmo patamar que o seu,
admite que erra como você, pede perdão como você", afirmou Mendez.
Parte dos marqueteiros e
analistas políticos ouvidos pela reportagem aposta que o caminho está aberto
para João Doria (PSDB), prefeito de São Paulo, que nega pretensão de disputar o
Planalto. Outra parte é cética quanto à sua possibilidade de conseguir a
candidatura, em meio às disputas no PSDB. Mas é consenso que a forma como Doria
se comunica -de forma direta com o eleitor, sem se vincular à classe política
tradicional - será fundamental para os candidatos em 2018. Para eles, a
população, de modo geral, não diferenciará os graus de envolvimento com
esquemas de caixa dois e/ou corrupção. Serão todos nivelados por baixo, e a
disputa se dará entre a trajetória pessoal de um versus a trajetória pessoal de
outro.
A Lava Jato "tem um
grande potencial destrutivo", observa Lula Guimarães, que fez o marketing
da campanha de Doria à prefeitura em 2016. "Mas é possível que o estrago
seja neutralizado por criar um denominador comum, fazendo com que o 'drive'
deixe ser a ética e passe a ser a entrega", afirmou.
Por exemplo, diz ele, o
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), cotado para disputar a
Presidência, tenta criar um canal direto com a classe média. O tucano tem dito
que o mote de sua campanha, se conseguir viabilizá-la, será a criação de
empregos. Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se coloca como o
legítimo representante dos pobres, resgatando as suas origens. Os dois estão
envolvidos na Lava Jato em graus distintos -o petista já é réu e foi implicado
por mais delatores que o tucano, acusado de ter negociado caixa dois.
Mas, para o cientista
político Antonio Lavareda, a eleição está "muito distante para que os
fatos revelados sejam capazes de definir o que vai ocorrer em 2018".
Com informações da
Folhapress.