Os pés são uma parte do
corpo negligenciada por todos. Embrulhamos em panos apertados (meias), depois
colocamos em caixotes de couro (sapatos) que são feitos em formato padrão, não
respeitando diferenças individuais. Chegando em casa não temos o hábito de
secar entre os dedos, acumulando fungos e restos de pele morta. É a parte que
menos cuidamos e menos observamos, mesmo na posição de médico. Quantas vezes um
médico examinou seus pés?
Os pés estão na periferia do
sistema circulatório e por isso sofrem mais com qualquer obstrução da corrente
sanguínea. São menos aquecidos também. As doenças circulatórias podem ser
relacionadas a três ?sistemas?: o arterial (não chega sangue), o venoso (não
drena o sangue adequadamente) e o linfático (o sistema venoso não tem o suporte
de drenagem que deveria). Os dois últimos são difíceis de diferenciar e, como
trabalham juntos, vamos juntar os dois em "venoso".
Doença venosa é adquirida ao
longo da vida, com dilatações das veias para acomodar mais sangue. Essas
dilatações formam verdadeiros sacos cheios de sangue (as varizes). A distensão
dos sacos provoca dores, extravasamento de líquidos (inchaço), e escurecimento
da pele (pelo deposito de hemossiderina, vindo das hemácias mortas). O Inchaço
é maior à noite, pela gravidade, bem como a dor é maior quando a pessoa esta de
pé. A doença arterial é mais grave. A obstrução de artérias grandes (como
femoral, ilíaca e até aorta) e menores (pediosa, poplítea) levam a falta de
sangue crônica, inicialmente nos dedos e cada vem mais próximo da raiz da coxa.
Os pelos das pernas e pés diminuem, pelo sofrimento crônico, e a pele em
especial da planta dos pés e dedos se torna pálida, e em casos mais greves,
escura e com feridas. Quando a pessoa faz esforço com as pernas, elas doem. E
isso obedece um padrão evolutivo: primeiro dores durante longas caminhadas,
depois médias distâncias e depois qualquer distância. As dores desaparecem
assim que a pessoa para de andar.
Um teste simples que pode
ser feito em casa é comprimir com o dedo uma polpa digital. Assim que você
solta, ela esta pálida, e logo depois o sangue que você "espremeu"
para fora preenche de novo a região deixando ela cor de rosa ou vermelha. Meça
também no dedão do pé. O tempo tem que ser menor que três segundos - mais do
que isso é suspeito. Existe um exame chamado índice tornozelo braquial que usa
esse princípio. Com um ultrassom ele mede a pressão em uma artéria do pé e
compara com a pressão em uma artéria do braço do mesmo lado. Se a razão entre a
pressão do tornozelo sobre a do braço for menor que 0,9, é sinal de risco
aumentado para doença arterial periférica, e isso já coloca a pessoa em uma
condição de maior risco de infarto, angina e AVC. O não tratamento de doença
arterial periférica pode levar à obstrução aguda, ruptura de placas, gangrena e
necrose de dedos e pés. Muitas pessoas são amputadas anualmente sem
necessidade, e não chegariam a isso se tivessem prevenido. A prevenção passa
por dieta, exercícios e medicamentos para controle de colesterol e
triglicerídeos.
Resumindo, cuide bem de quem
sempre carregou você. E preste atenção no que ele tentar avisar!
Dr. Bruno Valdigem - Cardiologista
- CRM 118535/SP