Os brasileiros que aplicaram
na caderneta de poupança no ano passado perderam dinheiro ou tiveram o mais
baixo ganho dos últimos onze anos. Os depósitos feitos depois de maio de 2012,
quando entraram em vigor as novas regras de rentabilidade da principal
aplicação do País, renderam 5,67%, menos do que o avanço de 5,91% da inflação
oficial. Já para quem ainda tem a "velha
poupança", depósitos anteriores a maio de 2012, a rentabilidade real
(quando se desconta a inflação) foi à pior dos últimos onze anos. De acordo com
cálculos da consultoria Economática, o ganho real foi de apenas 0,43%. Sem
descontar a inflação, o ganho nominal foi de 6,37% - o pior para os últimos 47
anos. De 2000 para cá, o melhor dos últimos anos para o poupador foi 2006,
quando a aplicação rendeu 5,10%, já descontado o Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA). Em 2002, porém, houve perda real de 2,9%.
O dinheiro aplicado a partir de 04 de maio de 2012 passou a
obedecer a nova regra de rentabilidade da poupança. O governo Dilma Rousseff
definiu que a aplicação rende menos toda vez que a taxa básica de juros foi
igual ou inferior a 8,5% ao ano. Quando alcança esse patamar, a "nova
poupança" tem seus rendimentos calculados com base em 70% da Selic mais
Taxa Referencial (TR). Migração. O objetivo ao vincular a remuneração da
poupança à Selic foi evitar que a queda da taxa básica de juros tornasse a
poupança mais atrativa que outras aplicações de renda fixa e provocasse grande
migração de ativos. Assim, na prática, Dilma liberou o Banco Central (BC) para
reduzir a taxa básica de juros. Depois de começar o ano no patamar mais baixo,
de 7,25% ao ano, a Selic voltou a subir em 2013 e fechou o ano em 10% ao ano.
José Nicolau Pompeo, professor de Economia e Finanças da PUC-SP,
afirma que, com a inflação pressionada, o pequeno poupador está fadado a ganhar
pouco. "Colocar na poupança é melhor do que deixar o dinheiro debaixo do
colchão e perder toda a inflação acumulada do ano", afirma. Para ele, a
poupança ainda continua atrativa para a maioria dos investidores - no ano
passado bateu recorde de captação de R$ 71 bilhões - porque apenas uma parcela
pequena faz cálculos sobre a rentabilidade real dos investimentos. "Para
os investidores que têm pouco dinheiro e querem liquidez imediata, o mercado
não oferece outras opções além da poupança", completa Paulo Cesar Batista,
professor da Universidade Estadual do Ceará. "O governo acaba tirando
vantagens da aplicação: simplicidade, liquidez imediata, isenção do Imposto de
Renda", afirmou. Segundo ele, os investidores da caderneta de poupança não
recuperam a inflação acumulada ao longo de todo o ano. "Outros fundos e
aplicações são muito complexos para o pequeno investidor. O custo da gestão
financeira torna impossível que esse tipo de aplicador invista em outras
modalidades", explica.