O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse nessa quinta-feira
(16/11), que não pode descartar a possibilidade de o Brasil repetir
a experiência italiana depois da Operação Mãos Limpas e eleger um
presidente de direita similar a Silvio Berlusconi na esteira da Lava Jato. Embora não
tenha citado nomes, ele deixou claro que considera o deputado e presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ)
a principal ameaça nas eleições do próximo ano.
“Eu não quero entrar em detalhes, mas há
pessoas da direita que são pessoas perigosas”, disse FHC em evento na
Universidade Brown, nos EUA. “Um dos candidatos propôs me matar quando eu
estava na Presidência. Na época, eu não prestei atenção. Mas hoje eu tenho
medo, porque agora ele tem poder, ainda não, ele tem a possibilidade do poder.”
Em entrevista à TV Bandeirantes em
1999, Bolsonaro afirmou que seria impossível realizar mudanças no Brasil por
meio do voto. “Você só vai mudar, infelizmente, quando nós partirmos para uma
guerra civil aqui dentro. E fazendo um trabalho que o regime militar não fez.
Matando 30 mil, e começando por FHC”, declarou.
Segundo o ex-presidente, há um “debate
sério” no Brasil sobre o assunto, inclusive entre os juízes responsáveis pela
Lava Jato. “Eles estão comparando, eles sabem o que aconteceu na Itália, todo
mundo sabe das consequências em termos de Berlusconi. Se você olha a situação
atual do Brasil, eu não posso dizer que isso não é possível.”
Para o tucano, o sucesso na disputa de 2018
dependerá da capacidade do candidato de expressar uma mensagem que coincida com
as aspirações da população. Mas ele ressaltou que a política não é pautada só
pela razão, mas também pela emoção. “É arriscado. Essa pessoa está comprometida
com a Constituição, com o respeito das leis, com os direitos humanos?”
FHC disse que relutou em apoiar o
impeachment de Dilma Rousseff, mas mudou de ideia quando houve a paralisia
do governo. De acordo com ele, a única saída possível para esse tipo de
situação em um regime presidencialista é o impeachment. O ex-presidente afirmou
ainda que o afastamento é uma decisão política, ainda que amparado em base
legal – no caso, o desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal.
“Isso é um crime tremendo? Não, muitas pessoas fizeram (o
mesmo). E por que não (foram afastadas)? Porque
essas pessoas não estavam em uma frágil posição de poder e a consequência não
foi a interrupção do processo de tomada de decisões. É uma questão política.”
Fonte: O Estado de S. Paulo
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