Com a perspectiva de que a
recuperação da economia será mesmo mais lenta do que o esperado, analistas
preveem que o aperto no orçamento das famílias brasileiras vai se prolongar ao
longo de 2017. Para suportar a crise, um roteiro tende a se repetir: corte de
gastos supérfluos e priorização do pagamento do essencial, como alimentação e
moradia. Segundo cálculos da consultoria Tendências, a folga no orçamento das
famílias, isto é, o que sobra para consumo e lazer após as despesas
imprescindíveis, tem girado ao redor de 35% da renda neste ano. Para 2017, as
projeções ainda não mostram alívio no indicador.
“Houve grande ajuste nos
itens de primeira necessidade e esse movimento não deixa os números mudarem”,
afirma João Morais, analista da consultoria. Ele aponta os reajustes da
energia, em 2015, e dos alimentos, neste ano, como obstáculos a uma melhora nas
contas familiares. O cálculo usa como base os itens com maior peso na inflação
medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
O aplicativo de controle
financeiro GuiaBolso também detectou essa mudança forçada nos hábitos de
consumo. Uma pesquisa feita entre 68,2 mil de seus usuários mostra que, entre
outubro de 2015 e o mês passado, as despesas com contas residenciais aumentaram
seu peso na renda de 8,9% para 10,9%. O mesmo movimento ocorreu nos gastos com
moradia, que ampliaram de 15,4% para 17,4% a fatia do orçamento. Os desembolsos
nos supermercados, porém, viram sua participação cair de 12,6% para 11,3%.
Esses números refletem o avanço do custo de vida e a necessidade de cortar
gastos. Segmentos como saúde e educação não escaparam de cortes. No mesmo
período, as despesas na primeira categoria caíram de 2% para 0,9% da renda, e
os da segunda, de 1,1% para 0,4%. Itens supérfluos, como viagens, cuidados
pessoais, compras e bares e restaurantes também perderam espaço.
“Houve ajustes no orçamento
e os gastos afetados foram aqueles que podem ser mudados mais facilmente”, diz
o presidente do GuiaBolso, Thiago Alvarez. Além dos efeitos da crise, Alvarez
considera que o controle financeiro gerou uma mudança de longo prazo no padrão
de consumo dos usuários do aplicativo. “As pessoas gastavam mais do que
ganhavam.”
Continua a seguir...
Nenhum comentário:
Postar um comentário