PAVASSU (PI) E REMANSO (BA)
- A falta de chuvas que já dura quatro anos no Nordeste secou, pela primeira
vez, represas e lagoas do interior de Bahia e Piauí. Considerada a pior dos
últimos 50 anos, a seca prejudica a produção agrícola e a criação de animais na
região. Sem emprego, a maior parte da população vive basicamente com o dinheiro
do Bolsa Família. O Rio São Francisco, mais importante fonte de água do
semiárido, registra os níveis mais baixos da história. O volume útil da represa
de Sobradinho, por exemplo, deve acabar entre o fim do mês e o começo de
dezembro, segundo a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). As ruínas
de ao menos duas cidades baianas que foram inundadas na década de 1970 para a
construção do reservatório estão visíveis: Casa Branca e Remanso. Os bares que
ficavam na prainha de Remanso tiveram que se deslocar cinco quilômetros para se
manter à beira do São Francisco.
É muito triste ver que o rio
ficou desse jeito. Antes era como um mar, você não via onde acabava. Agora a
gente olha e vê bancos de areia no meio, consegue andar na terra que ficava
embaixo d’água — diz o comerciante Guilherme de Souza, de 51 anos, enquanto
olha o cais da cidade antiga, que emergiu há três meses. No interior do Piauí,
moradores se depararam, em setembro, com o fim da lagoa de Pavussu, uma das
maiores do estado e utilizada para abastecimento humano e pesca. O reservatório
sumiu há dois meses devido à falta de chuva e ao represamento de córregos feito
por fazendeiros. Só sobrou terra rachada. Essa lagoa foi até tema de música,
era a coisa mais bonita. Hoje não tem uma gota d’água e não sei quanto tempo
vai demorar para ela voltar ao normal — afirma a dona de casa Maria Ozélia de
Macedo Souza, de 45 anos.
A água superficial é uma das
poucas fontes da região, já que é difícil encontrar poços subterrâneos. Em São
Raimundo Nonato (PI), moradores dizem que precisam cavar até 200 metros para
achar água — imprópria para beber. A situação é de total colapso — diz Carlos
Humberto Campos, coordenador da ONG Articulação do Semiárido (ASA) no Piauí. —
Boa parte das cidades está dependendo de carro-pipa e cisterna. Mesmo quem
fugiu da seca sofre com os efeitos da falta de chuva. Nascida no Piauí e dona
de um bar em Petrolina (PE), Perpétua Raimunda da Silva, de 73 anos, lembra de
como criou os filhos na seca e diz que tudo melhora se chover:
Precisa chover para esse
sofrimento acabar. A previsão do Inmet, porém, é de que as chuvas fiquem abaixo
da média até janeiro. Falta d’água acaba com empregos e prejudica pecuária e
produção agrícola.
Ascom Força Sindical
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