O primeiro aconteceu quando
minha avó era criança. Ela e a família moravam numa fazenda na região de Juiz
de Fora. O avô dela, meu trisavô portanto, morava com minha bisavô e bisavó.
Era uma pessoa muito simples, que sempre foi trabalhador rural e só usava
sapato para ir a missa. Um dia, como todos nós vamos um dia, ele morreu. Como
ele não tinha terno, meu bisavô "emprestou" um para ele. Claro que
não receber de volta... Bom, só que meu bisavô "derramava" um pouco.
É fato conhecido que o interior de Minas produz uma das melhores cachaças do
país. E como meu bisavô gostava. Quando ele bebia demais ele se exaltava e
falava um monte de besteira. Entre elas estava a pérola que ele jogava na cara
da minha bisavó: "E seu pai era um miserável. Eu que tive que dar o terno
para o velório".
Uma noite todos os adultos
estavam conversando na sala da sede da fazenda e minha avó foi para uma
despensa que ficava do lado de fora da casa. Ela não lembra muito bem porque.
Mas o que aconteceu depois ela nunca esqueceu. Os adultos ainda conversavam
quando ela voltou tremendo de medo, quase chorando e com o cabelo literalmente
em pé. Minha bisavó perguntou,
preocupada:
- O que foi minha filha ?
-
Mamãe, eu vi um velhinho lá atrás com uma roupa no braço.
- Que velhinho, que roupa ?
- Acho que era vovô que veio devolver o terno.
Depois dessa meu bisavô
nunca mais falou nada do bendito terno. Acho que ele não iria querer usar de
novo.
Enviado pelo leitor,
Almerindo Bispo (Ilheus Bahia)
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