A reforma política volta a ocupar o palco principal do grande
teatro nacional com a votação, em segundo turno, de algumas medidas já
aprovadas pela Câmara dos Deputados. Depois, virão mais duas rodadas no Senado,
ao fim das quais a nação conhecerá o monstrengo que funcionará como legislação
eleitoral nos breves próximos anos, até que novas encruzilhadas nos empurrem
novamente para o caminho da “mudança”.
Será tarefa ociosa esperar que essa maioria de deputados e
senadores que aí estão não vá moldar a reforma por seus interesses pessoais
diretos, agora com a preocupação adicional – muitos deles – de não parar na
cadeia. Não se podem esperar, por exemplo, restrições aos pequenos partidos,
que continuarão servindo de biombo para negócios particulares, o fim do
financiamento privado de campanhas, que nos arrastou ao quadro atual. De certo,
só mesmo os dribles na fidelidade partidária.
Manter o poder a todo custo, a esta altura, é desiderato
essencial para que amplas e verdadeiras intervenções no campo institucional não
venham a botar esta república de pernas pro ar, investigar tudo, esclarecer
tudo. Trata-se de autopunição que os caracteres predominantes no meio político
brasileiro não comportam. Parece que somos culturalmente inferiores e jamais
conseguiremos reerguer-nos da nossa própria podridão, só piorar.
Depois do regime militar, entre outros escândalos, passamos
por Collor, Anões do Orçamento, Mensalão e, agora, Petrolão, todos com
maiúscula, porque é assim que se grafam os acontecimentos históricos, e a
conclusão a tirar é de que pouco proveito nos trouxe tanta experiência. Com o
modelo de sociedade que temos hoje, do individualismo e da acomodação, não há
esperança de reação. A tendência é a crescente inconsistência do tecido social,
que se disporá em estamentos tão estanques quanto o permitir a vida diária,
que, afinal, não tira férias.
A interação entre pessoas e classes continuará a existir, mas
sob o enfraquecimento progressivo das regras de convivência, criando, portanto,
um cenário de conflito exacerbado e sem direção. Esse é o Brasil que nos espera
– e aos nossos filhos e netos.
Por Escrito
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