O aumento do desemprego no País, que atinge todas as faixas,
mas em especial os brasileiros com 18 a 24 anos, castiga também os jovens com
maior nível de escolaridade, que há até pouco tempo eram os menos afetados pela
escassez de trabalho. Em dez anos, saltou de 528 mil para 830 mil o número de
jovens que se formam anualmente nas universidades brasileiras. Essa geração,
beneficiada pelo acesso mais amplo ao ensino superior - parte dele favorecido
por programas como o Financiamento Estudantil (Fies) do governo federal, que
beneficiou cerca de 2 milhões de pessoas desde 2010 -, chega ao mercado e se
depara com a falta de vagas.
"Terminei a faculdade em julho do ano passado e esperava
que as empresas pudessem me dar uma oportunidade de crescimento, mas não foi
isso que aconteceu", diz Mateus de Oliveira, de 21 anos, formado em Gestão
de Recursos Humanos pela Faculdade de Comunicação, Tecnologia e Turismo de
Olinda (Facottur). Ele mora em Olinda (PE) com a irmã e a mãe. Os três
sobrevivem com o salário mínimo que a mãe recebe como cuidadora de uma idosa e
a pensão que o pai paga, e se diz "desesperado" para conseguir um
emprego.
"Já estou aceitando qualquer vaga, até de vendedor em
shopping center", afirma Mateus. Além das necessidades básicas, ele quer
se livrar de uma dívida de cerca de R$ 2 mil no cartão de crédito.
Dados da última Pesquisa Mensal de Empregos (PME), do IBGE,
mostram que a taxa geral de desemprego em seis regiões metropolitanas do País
(São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre) foi de 6,4%
em abril. Entre os jovens, essa taxa foi duas vezes e meia maior, e ultrapassou
os 16%.
De 2002 a 2014, a taxa de desemprego entre jovens com até 24
anos caiu 11,2 pontos porcentuais, de 23,2% para 12%. Neste ano, essa taxa
chegou a 16,2% em abril. "Demorou 12 anos para a taxa cair 11 pontos e em
único ano já foram devolvidos mais de 4 pontos", diz o pesquisador da
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Eduardo Zylberstajn.
Para Rodrigo Leandro de Moura, pesquisador e professor do
Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), apesar
de o desemprego estar crescendo em todas as faixas etárias, os jovens tendem a
sofrer mais em casos de conjuntura desfavorável.
"Em geral, o jovem é menos experiente, está em processo
de escolarização e é menos produtivo. Numa recessão, a tendência é justamente
cortar os trabalhadores menos produtivos", diz Moura. "Além disso, o
jovem é a única faixa etária que tem um contrato de trabalho mais flexível que
os demais. Na hora de desligar, a empresa não incorre em custos demissionais;
portanto, é mais barato."
Continua a seguir...
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