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sábado, 20 de junho de 2015

Contos & Causos - Fim das Águas



 

As águas se aquietaram nas planícies do Goiás e a friagem chegou, a grota agora cobra seu preço, se não for de preparo certo volta antes da hora, o milho safrinha ainda vai dar de comer a muito vivente, os bandos de maritaca revoam esperando a hora da fartura, o horizonte se pinta de tons púrpuros com o pôr e nascer do sol, o cerrado ainda verde com seu capim alto amoita o campeiro que acaba de perder as pintas, alguns machinhos brotam o chifre aveludado em rumo de crescimento, e na agitada movimentação dos bichos os trieiros começam a ficar mais visíveis.
De longe o amassado do carreiro da anta já marca a campina, os rastros outrora firmados na estrada molhada agora se firmam no pó fino e seco, a barriguda linda floreia em tons de rosa e branco, o murici já acabou, outras flores chegam devagar, e a ventania balança a mata desafiando o ouvido e a paciência do mateiro que anda veiaco, pisando em toada mansa assim como muitos viventes da mata que perambulam aproveitando da ausência das folhas secas que estalam denunciando o caminhar.
A gata não mexe mais na criação, agora a vida dela começa a ficar menos trabalhosa, volta a lida pesada no carreiro da porcada, que desce da serra e cortam as grotas buscando alimento, porco é bicho perseguido que não tem trato nem hora com ninguém, bandoleiro chega e some por bom tempo, mas no andar da bicharada tudo para e se cala quando o esturro do macho preocupado com seu território ecoa na mata durante a madrugada, inté o grilo não se atreve a cantar.
A poeira ainda não pintou as arvores que beiram as estradas e as marcas das enxurrada deixaram vincos nas estradas mais ermas, a mata verde se destaca ainda úmida e revitalizada pelo trabaio de São Pedro, porem tudo agora tende a mudança, estamos beirando junho o meio do ano, em três meses de estiagem o Centro Oeste vai mudar de cor, vai a tons de cinza ao marrom palha.
É o fim das aguas no Goiás, as Emas correm em bandos, o pica pau do campo faz festa, a perdiz perambula por entre o capinzal, enquanto isso a gralha do campo acompanha meu caminhar me marcando e gritando, é aviso de que tem movimento, tem vivente ou coisa diferente por ali, logo as seriemas se acasalam e vão ao auge da falta de capricho ao fazer o ninho mais mal feito da mata para colocar seus ovos.
Na toada do Jeep a poeira do estradão se apruma deixando a saudade, na frente acompanhando a estrada a esperança de mais um ano de aventuras e vitórias, com a certeza de que tudo de novo vem no horizonte pintado com as cores do frio no nascer do sol nesse meu maravilhoso Goiás....
                                                                            

Contado por Bello 

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