A Câmara terá 198 neófitos
que terão seu primeiro gabinete brasiliense. Formalmente, é a maior taxa de
renovação desde 1998: 39%. Mas o exame da lista de eleitos revela que grande
parte das caras novas têm sobrenomes ou nomes de guerra velhos conhecidos do
Congresso, como Covas, Cardoso e Garotinho.
Mudam só os prenomes: Bruno
em lugar de Mario, Clarissa em vez de Anthony. Às vezes nem isso, basta
acrescentar um “júnior”, um “neto” ou até um “bisneto” no final. São todos
herdeiros do poder, como Newton Cardoso Jr., Expedito Netto e Arthur Bisneto. A
hereditariedade do poder é um dos legados da monarquia que a república
brasileira conserva com mais afeto e zelo.
Entre os neófitos, quem não
chegou lá por ser parente se encaixa em pelo uma dessas categorias: já passou
por outro cargo eletivo (prefeito, deputado estadual etc), exerceu alguma função
pública (policial, promotor etc), é celebridade – com as exceções que confirmam
a regra. Na Câmara, a eleição foi seis por meia dúzia.
Por que os gritos e cartazes
não se converteram em votos de protesto? Não em quantidade suficiente para
mudar os donos do poder. Por que? Há várias respostas, esta é apenas uma.
Porque quem foi às ruas
protestar foi um segmento expressivo, mas um segmento, não toda a população.
Eram majoritariamente jovens que tiveram mais oportunidades de estudo do que
qualquer outra geração anterior à deles na história do Brasil. Mas que não
conseguem equiparar esses anos de estudo a cifrões nos seus salários. Estão
mais frustrados do que as gerações anteriores. Foram essas gerações mais velhas
que decidiram a eleição.
Os mais velhos votaram na
continuidade. Não arriscaram porque, mesmo sem tanto estudo quanto os filhos,
experimentaram um incremento de renda que nem seus pais nem avós
experimentaram. Para eles não era seis por meia dúzia.
Escreve José Roberto de
Toledo do estadão.com
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