A disputa presidencial é a
mais virulenta dos últimos 25 anos. Os dois candidatos deveriam abandonar as
agressões mútuas e lembrar que há um país a governar
É uma mudança histórica. O
país irá às urnas no domingo, dia 26 de outubro, cindido ao meio entre
eleitores da presidente Dilma Rousseff (PT) e do senador Aécio Neves (PSDB), na
disputa mais virulenta dos últimos 25 anos. Nunca houve situação igual. Em
1989, na primeira eleição presidencial depois da redemocratização, a disputa
entre Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva foi igualmente acirrada. Mas
não havia a divisão geográfica, entre Norte e Sul, nem a socioeconômica, entre
mais ricos e mais pobres, como há agora. Como agravante, os debates do segundo
turno, entre Dilma e Aécio, descambaram para o território do vale-tudo, da
violência verbal e da desqualificação do adversário, de uma forma como nunca
fora registrada nas disputas presidenciais anteriores entre petistas e tucanos.
No primeiro debate, na TV Bandeirantes, ao se referir ao escândalo de corrupção
na Petrobras, Aécio falou em “mar de lama”, uma evocação, talvez involuntária,
mas funesta, das denúncias de Carlos Lacerda que levaram ao suicídio do
presidente Getúlio Vargas, em 1954. No debate do SBT, Dilma insinuou que Aécio
estava “drogado” ou “bêbado”, ao mencionar um episódio de 2011, em que, detido
numa blitz de trânsito no Rio de Janeiro, ele se recusou a se submeter ao bafômetro.
O conflito é a essência da
prática política. Numa democracia, a disputa pelo poder entre grupos
concorrentes passa pelo debate de ideias antagônicas sobre como governar
melhor. Mas tem também uma dimensão moral, que se resume na seguinte ideia: um
lado está certo, o outro está errado. Essa dimensão moral da política é menos
permeada pela razão que pelos sentimentos. Eles se manifestam, muitas vezes,
como indignação, raiva e até ódio. Somados, viram intolerância. Quando a
intolerância subjuga o argumento, resta apenas o bate-boca. Quando dois
candidatos à Presidência da República se entregam a um bate-boca em que a
disputa eleitoral vira uma competição para ver quem desqualifica mais o outro,
há dois problemas. Primeiro, os líderes políticos deixam de exercer seu papel
educador. Segundo, sobram como lastro da disputa política as mágoas e os
ressentimentos. Eles explodiram como nunca nesta eleição. Têm desfeito
sociedades, separado amigos e dividido famílias.
Escreve revista época
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