Por
definição, o termo anedonia significa falta ou perda da capacidade de sentir
prazer ou satisfazer-se. Etimologicamente, pode ser traduzido por ausência de
prazer. A partir desse princípio, a anedonia é caracterizada como um sintoma
depressivo que, assim como muitos outros, tem impacto direto não só na
permanência da vida do paciente, como também na qualidade dela.
Nesse sentido, torna-se
válido refletir acerca da importância do prazer para o indivíduo. Desde a
antiguidade a busca pelo prazer sempre determinou muitos comportamentos em
diferentes sociedades. Em um breve resgate histórico, é possível citar
movimentos como o Hedonismo – doutrina filosófica que se baseava na ideia de que
o prazer é o bem supremo da vida humana, ou o Epicurismo – um sistema
filosófico que pregava a procura dos prazeres moderados para atingir um estado
de tranquilidade e de libertação do medo.
Mas, e hoje? Como o ser humano encara o
prazer? Qual o nível de importância da sua busca?
O prazer e a satisfação
permeiam diversos momentos de nossas vidas. Desde situações corriqueiras como
apreciar uma boa comida, assistir sua série favorita, ouvir sua música
preferida, atingir um orgasmo, tomar banho quente num dia frio, achar fotos
antigas, rever velhos amigos, cantar num karaokê, ver o pôr do sol na praia,
estar em família, até eventos mais marcantes, como sua formatura, o primeiro
emprego, conquistas materiais, viagens especiais, o grande amor da sua vida…
Tudo isso representa uma minúscula parte das inúmeras possibilidades de
alcançar e sentir prazer ao longo da vida.
No entanto, para além da
satisfação pessoal, algumas situações da procura pelo prazer podem não ser tão
positivas. A velocidade em que as coisas acontecem, a fluidez dos nossos
vínculos, a mecanização das nossas relações e a brevidade dos nossos
sentimentos configuram um padrão de vida substancialmente diferente na
contemporaneidade em relação a décadas passadas. Os prazeres físicos,
momentâneos e fugazes tornaram-se objeto de interesse do indivíduo moderno e a
busca pela satisfação desses desejos determina o estilo de vida de grande parte
da população.
Nesse
contexto, nota-se um acentuado uso de substâncias como álcool, cafeína, tabaco,
Cannabis, psicoestimulantes como cocaína e anfetamínicos, opioides,
alucinógenos, inalantes, sedativos, hipnóticos e ansiolíticos, que produzem, de
modo geral, sensações de prazer ou excitação, cuja correspondência cerebral
está vinculada às chamadas áreas e circuitos de recompensa do cérebro. As
principais estruturas desses circuitos são o nucleus accumbens, a área
tegmental ventral e a amígdala, e o principal neurotransmissor envolvido é a
dopamina (Gardner, 2011).
É aí que mora o problema
quando o sujeito apresenta a anedonia: a incapacidade total ou parcial de obter
e sentir prazer com determinadas atividades e experiências da vida. O indivíduo
relata que, diferentemente do que ocorria antes de adoecer, agora não consegue
mais sentir prazer sexual, não consegue desfrutar de um bom papo com os amigos,
de um almoço gostoso com a família, de um bom filme, etc. Os pacientes dizem:
“Agora não vejo mais graça em nada, as coisas perderam o sabor, não vibro com
mais nada…”.
A
anedonia é um sintoma central das síndromes depressivas, podendo ocorrer também
em quadros esquizofrênicos e em transtornos da personalidade. A apatia
(incapacidade de sentir afetos) e a anedonia (incapacidade de sentir prazer)
são fenômenos muito próximos, que ocorrem, na maioria das vezes, de forma
simultânea (Tradway; Zald, 2011).
De acordo com o psiquiatra
Paulo Dalgalarrondo, em seu livro Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos
Mentais, uma pessoa com depressão grave vive seu corpo como algo pesado, lento,
difícil, fonte de sofrimento, e não de prazer. Sente-se fraca, esgotada,
incapaz de fazer frente às exigências da vida. Seu corpo já não tem vida, é um
peso morto; a pessoa se sente impotente ou muito doente.
Em vista disso, ao exame
psíquico apresenta humor triste, apático ou inibido, que pode ser avaliado com
as seguintes perguntas: Você tem-se sentido triste ou melancólico? Desanimado?
As coisas que antes lhe davam prazer agora lhe são indiferentes? Sente-se
cansado, sem energia? Sente-se fraco? Não se alegra com mais nada? Perdeu ou
aumentou o apetite ou o sono? Perdeu o interesse pelas coisas? Tem vontade de
sumir ou morrer? Sente que não tem mais saída? Sente tédio? Realizar as tarefas
rotineiras passou a ser um grande fardo para você? Prefere se isolar, não
receber visitas? Sente um vazio por dentro? Às vezes, sente-se como se
estivesse morto?
Conclui-se, desta maneira,
que a anedonia é um sintoma grave, com repercussões diretas no modo de vida do
indivíduo e que deve ser avaliada quanto à existência, ao grau de severidade, a
frequência e intensidade, a fim de viabilizar diagnósticos e tratamentos
acertados que evitem consequências danosas para o paciente.
Autor: Gileno Trozzi,
Estudante de Medicina
Ref:
Ganduense e filho do Casal Amigo, Gil Calheira e professora Izandra