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segunda-feira, 1 de junho de 2020

Anedonia - Quando tudo perde a graça – Por Gileno Trozzi





Por definição, o termo anedonia significa falta ou perda da capacidade de sentir prazer ou satisfazer-se. Etimologicamente, pode ser traduzido por ausência de prazer. A partir desse princípio, a anedonia é caracterizada como um sintoma depressivo que, assim como muitos outros, tem impacto direto não só na permanência da vida do paciente, como também na qualidade dela.
Nesse sentido, torna-se válido refletir acerca da importância do prazer para o indivíduo. Desde a antiguidade a busca pelo prazer sempre determinou muitos comportamentos em diferentes sociedades. Em um breve resgate histórico, é possível citar movimentos como o Hedonismo – doutrina filosófica que se baseava na ideia de que o prazer é o bem supremo da vida humana, ou o Epicurismo – um sistema filosófico que pregava a procura dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo.

Mas, e hoje? Como o ser humano encara o prazer? Qual o nível de importância da sua busca?

O prazer e a satisfação permeiam diversos momentos de nossas vidas. Desde situações corriqueiras como apreciar uma boa comida, assistir sua série favorita, ouvir sua música preferida, atingir um orgasmo, tomar banho quente num dia frio, achar fotos antigas, rever velhos amigos, cantar num karaokê, ver o pôr do sol na praia, estar em família, até eventos mais marcantes, como sua formatura, o primeiro emprego, conquistas materiais, viagens especiais, o grande amor da sua vida… Tudo isso representa uma minúscula parte das inúmeras possibilidades de alcançar e sentir prazer ao longo da vida.
No entanto, para além da satisfação pessoal, algumas situações da procura pelo prazer podem não ser tão positivas. A velocidade em que as coisas acontecem, a fluidez dos nossos vínculos, a mecanização das nossas relações e a brevidade dos nossos sentimentos configuram um padrão de vida substancialmente diferente na contemporaneidade em relação a décadas passadas. Os prazeres físicos, momentâneos e fugazes tornaram-se objeto de interesse do indivíduo moderno e a busca pela satisfação desses desejos determina o estilo de vida de grande parte da população.
Nesse contexto, nota-se um acentuado uso de substâncias como álcool, cafeína, tabaco, Cannabis, psicoestimulantes como cocaína e anfetamínicos, opioides, alucinógenos, inalantes, sedativos, hipnóticos e ansiolíticos, que produzem, de modo geral, sensações de prazer ou excitação, cuja correspondência cerebral está vinculada às chamadas áreas e circuitos de recompensa do cérebro. As principais estruturas desses circuitos são o nucleus accumbens, a área tegmental ventral e a amígdala, e o principal neurotransmissor envolvido é a dopamina (Gardner, 2011).
É aí que mora o problema quando o sujeito apresenta a anedonia: a incapacidade total ou parcial de obter e sentir prazer com determinadas atividades e experiências da vida. O indivíduo relata que, diferentemente do que ocorria antes de adoecer, agora não consegue mais sentir prazer sexual, não consegue desfrutar de um bom papo com os amigos, de um almoço gostoso com a família, de um bom filme, etc. Os pacientes dizem: “Agora não vejo mais graça em nada, as coisas perderam o sabor, não vibro com mais nada…”.
A anedonia é um sintoma central das síndromes depressivas, podendo ocorrer também em quadros esquizofrênicos e em transtornos da personalidade. A apatia (incapacidade de sentir afetos) e a anedonia (incapacidade de sentir prazer) são fenômenos muito próximos, que ocorrem, na maioria das vezes, de forma simultânea (Tradway; Zald, 2011).
De acordo com o psiquiatra Paulo Dalgalarrondo, em seu livro Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais, uma pessoa com depressão grave vive seu corpo como algo pesado, lento, difícil, fonte de sofrimento, e não de prazer. Sente-se fraca, esgotada, incapaz de fazer frente às exigências da vida. Seu corpo já não tem vida, é um peso morto; a pessoa se sente impotente ou muito doente.
Em vista disso, ao exame psíquico apresenta humor triste, apático ou inibido, que pode ser avaliado com as seguintes perguntas: Você tem-se sentido triste ou melancólico? Desanimado? As coisas que antes lhe davam prazer agora lhe são indiferentes? Sente-se cansado, sem energia? Sente-se fraco? Não se alegra com mais nada? Perdeu ou aumentou o apetite ou o sono? Perdeu o interesse pelas coisas? Tem vontade de sumir ou morrer? Sente que não tem mais saída? Sente tédio? Realizar as tarefas rotineiras passou a ser um grande fardo para você? Prefere se isolar, não receber visitas? Sente um vazio por dentro? Às vezes, sente-se como se estivesse morto?
Conclui-se, desta maneira, que a anedonia é um sintoma grave, com repercussões diretas no modo de vida do indivíduo e que deve ser avaliada quanto à existência, ao grau de severidade, a frequência e intensidade, a fim de viabilizar diagnósticos e tratamentos acertados que evitem consequências danosas para o paciente.
Autor: Gileno Trozzi, Estudante de Medicina
Ref: Ganduense e filho do Casal Amigo, Gil Calheira e professora Izandra


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