Na primeira
eleição estadual sem contribuição de empresas privadas, o governador da Bahia,
Rui Costa (PT), decidiu inverter uma lógica consagrada em campanhas anteriores.
Em vez de repassar recursos para candidatos ao Legislativo da sua coligação,
ele resolveu “passar a sacolinha” entre os postulantes aos cargos de deputado
estadual e federal para que eles ajudem financiar sua campanha à reeleição. A
ideia é arrecadar ao menos R$ 2 milhões, segundo o coordenador da campanha do
petista nas eleições 2018, Jerônimo Rodrigues. O valor representa 20% dos R$ 10
milhões que Rui estima gastar durante a campanha este ano. Mal recebida pelos
aliados, a proposta consiste em fixar duas faixas de doações: R$ 50 mil para
candidatos sem mandato e R$ 100 mil para deputados que já estão no cargo. Para
candidatos a deputado estadual, a cota é de R$ 20 mil para quem tem mandato e
R$ 10 mil para os que não têm. “É óbvio que teve resistência. É natural que o
‘puxa-estica’ aconteça porque estamos acostumados com a campanha majoritária
ajudando as proporcionais, e não com essa lógica que a nova forma de
financiamento nos impôs”, afirma Rodrigues, que deixou o comando da Secretaria
Estadual de Desenvolvimento Rural para coordenar a campanha de Rui Costa. A
reeleição de Rui é considerada prioritária pelo PT. O partido deve destinar
entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões à campanha. Segundo Rodrigues, outra parte da
arrecadação será feita por meio de jantares de adesão. Os candidatos a
vice-governador, João Leão (PP), e a senadores, Jaques Wagner (PT) e Ângelo
Coronel (PSD), também terão que contribuir, mas o valor ainda não está
definido. Além disso, foi feito um “ajuste fiscal” na campanha. Nas caravanas
pelo interior do Estado, iniciadas na manhã desta sexta-feira, 17, os
candidatos deverão circular de ônibus pelos municípios, a fim de economizar. Se
for traduzido em números, o “cobertor curto” da campanha de Rui Costa à
reeleição significa uma queda de 78% em relação à disputa de 2014, quando ele
foi eleito no primeiro turno. Há quatro anos, a campanha de Costa custou R$
45,2 milhões, de acordo com dados do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia
(TRE-BA) – ante os R$ 10 milhões estimados para 2018. O principal candidato da
oposição, José Ronaldo (DEM), deve gastar quase a metade que a estimativa
petista de gastos. O prefeito de Salvador, presidente do DEM e principal
articulador da campanha de Ronaldo, ACM Neto, afirma que R$ 6 milhões é o teto
que candidatos a governador devem receber da legenda – em 2014, a campanha do
então candidato do partido ao governo, Paulo Souto, gastou R$ 21,6 milhões, 72%
maior que a estimativa deste ano. Para receber os R$ 6 milhões, no entanto, um
candidato do DEM ao governo precisa combinar dois critérios: o tamanho do
Estado e do eleitorado e da viabilidade eleitoral de sua postulação. O segundo
requisito Ronaldo “hoje ainda não tem”, admitiu ACM Neto ao Estado. “Vamos
mesclar esses dois critérios. Na Bahia deve haver majoração sim, pelo tamanho
do Estado, do eleitorado e também porque a gente acredita que José Ronaldo vá
crescer nas pesquisas”, disse. Nos bastidores, interlocutores do partido dizem
que as transferências do DEM devem ser a principal forma de arrecadação da
campanha de Ronaldo, e não há recursos de outra ordem previstos.
Estadão Conteúdo