Daqui a 20,
30, 50, 100 anos, um francês haverá de lembrar saudoso em um bar qualquer da
Champs-Élysées que a França goleou a Croácia por 4 a 2 no Estádio Lujniki, em
Moscou, e conquistou a Copa do Mundo pela segunda vez na história. Lembrará que
o trio Pogba, Griezmann e Mbappé marcou uma vez cada e se consolidou como o
símbolo maior da conquista na Rússia. Haverá de lembrar que a seleção mais
jovem da Copa, com média de idade de 26 anos, voltou consagrada do país em que
nem Napoleão conseguiu invadir. Haverá de lembrar da glória que pela segunda
vez coloriu o mundo de vermelho, branco e azul, as cores da revolução e
bandeira francesas.
Enquanto
isso, um croata há de lembrar tristonho em um bar qualquer da capital Zagreb
que a Copa do VAR lhe deixou marcas para sempre. Certamente, se queixará da
inexistência de falta em Griezmann no primeiro gol francês e da marcação do
pênalti, com o auxílio do VAR, no segundo, depois de a bola resvalar na mão de
Perisic, autor do primeiro gol croata. Um mais desavisado poderá dizer também
que Pogba estava impedido no lance do primeiro gol, e portanto o VAR, sempre
ele, deveria ter sido acionado. Mas ele pode até ter forçado a Mandzukic a
jogar a bola para as próprias redes, participando do lance, só que apenas seu
braço estava à frente, o que anula o impedimento. Paciência. Tomara que lembre
também que sua seleção fez um excelente mundial e mostrou ao mundo que um país
de 4 milhões de habitantes pode formar um timaço, orquestrado pelos incríveis
Modrid e Rakititc e muita garra para suportar três prorrogações
Se estiveram no Lujniki, franceses e croatas
lembrarão orgulhosos de terem acompanhado uma grande festa de encerramento, com
participação especial do um debochado Ronaldinho Gaúcho. Contarão que três
homens invadiram o campo e logo foram contidos pelos seguranças. A Copa também
é usada para quem quer aparecer.
O
goleiro Lloris, capitão da França e 21º homem a erguer a taça da Copa do Mundo,
lembrará que sua liderança e defesas foram fundamentais no Mundial, mas que por
um momento achou que poderia por tudo a perder ao vacilar na saída de bola e
permitir o gol de Mandzukic. Bom, na verdade, de que importa? A vitória de 4 a
2 estava decretada e a consagração de Lloris e Cia. também.
Os
franceses também haverão de lembrar, por favor, que sua seleção tinha a cor e a
marca de um país de imigrantes. De Camarões, Mali, Guiné. Da Roissy-en-Brie,
terra de Pogba, e dos quatro gols de Griezmann, o "Pequeno Príncipe".
Ele sai novamente como artilheiro da equipe na competição, mas desta vez com a
taça, diferentemente da Euro de 2016 em casa. Aliás, quem haverá de lembrar
dessa Euro com o fantasma sendo exorcizado dois anos depois?
Foi
a Copa do VAR, mas também das matrioskas, as bonequinhas russas, do choro e das
quedas de Neymar, que saiu como piada internacional, de mais um fracasso de
Cristiano Ronaldo e Messi, da ótima geração belga, do artilheiro Harry Kane,
dos excelentes croatas Rakititc, Modric, Perisic, do "zerado" Giroud.
Como Guivarc'h em 1998, ele passou a Copa em branco, mas subiu ao palco com a
taça. De que importa? Quem haverá de lembrar da seca de gols de Giroud?
Os
franceses vão preferir lembrar que a seleção fez quatro gols em uma final de
Copa, algo que não acontecia desde 1970, quando o Brasil fez 4 a 0 na Itália e
conquistou o tri no México. Allez les Bleus!
Daqui
50 anos, em um bar qualquer da Paraíba, com sorte lembrarei que escrevi essas
linhas vendo tudo acontecer na frente dos meus olhos, ao vivo e a cores. Vou
lembrar das andanças pela Rússia, das pessoas incríveis, das nem tanto assim. E
você, do que lembrará da Copa na Rússia daqui 20, 30, 50 anos? Até o Catar em
2022!
Terra.com