O presidente Michel Temer decidiu usar a reforma ministerial que
fará no fim deste mês para tentar isolar a pré-candidatura de Rodrigo Maia
(DEM-RJ) ao Palácio do Planalto e, com isso, ganhar uma sobrevida até julho
para seu desejo de concorrer à reeleição. A estratégia de Temer é dar um
ultimato a partidos de sua base aliada, como PP, PR e PTB, e negociar
indicações aos ministérios apenas com siglas que se comprometerem com seu
projeto eleitoral. O plano pode ser o de sua reeleição ou o de uma candidatura como
a do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.
As tratativas foram aceleradas nesta semana, após Temer sofrer
três reveses na Justiça e Maia ter lançado seu nome ao Planalto com
demonstração de apoio de pelo menos 12 partidos, vários deles aliados do governo.
Com o fôlego dado ao inquérito que apura irregularidades no setor de portos, a
autorização para a quebra de seu sigilo bancário e a inclusão de seu nome em
investigação sobre repasses da Odebrecht ao MDB, o presidente avaliou que
precisa reforçar sua fragilizada base enquanto tenta manter influência no
tabuleiro eleitoral.
Temer terá de trocar o controle de pelo menos 12 ministérios até
7 de abril –prazo para que os ministros que queiram concorrer às eleições
deixem seus cargos. Um dos principais focos do Planalto é o PP, que hoje detém
o Ministério da Saúde. Na terça-feira (6), o presidente do partido, Ciro
Nogueira (PI), conversou com Temer sobre a possibilidade de manter o comando da
pasta.
Ouviu do presidente que isso só acontecerá se a sigla estiver
comprometida com o candidato do governo.
Dois dias depois, na quinta-feira (8), Nogueira compareceu à
convenção do DEM, que lançou Maia à Presidência, e disse que estaria ao lado do
deputado enquanto ele percorresse o país. O discurso do dirigente do PP, assim
como o de integrantes do PR e do PTB, é o de que o Planalto ainda não
oficializou sua candidatura e que, portanto, eles têm até julho para definir
suas posições.
Até lá, afirmam, observarão o desempenho do presidente da Câmara
–Maia tem apenas 1% das intenções de voto, segundo o Datafolha–, mas não
abandonam necessariamente nenhum projeto do campo da centro-direita.
Além da Saúde, nas mãos do PP, o presidente pode nomear novos
chefes para Educação (DEM), Trabalho (PTB), Indústria e Comércio Exterior
(PRB), entre outros.
A maior parte desses partidos não terá candidato ao Planalto e,
portanto, tem interesse em valorizar o passe em alianças com nomes mais
competitivos, como Geraldo Alckmin (PSDB), que tem cerca de 11% nas pesquisas. A
candidatura do próprio Maia é vista com ceticismo pelo governo e por alguns de
seus aliados, que acreditam que o deputado só quer se cacifar para ser o
aglutinador do bloco de centro e indicar um vice na chapa do tucano.
Outro trunfo nas mãos de Temer é a liberação de cerca de R$ 15
milhões em emendas parlamentares para cada deputado, o que pode ser feito
somente até julho, de acordo com a lei eleitoral. Segundo a reportagem apurou,
o presidente vai acelerar o repasse dessa verba durante a costura da reforma
ministerial, como mais um caminho para tentar esvaziar as candidaturas de Maia
e Alckmin que também duela pelo apoio desses partidos.
O Planalto calcula que sua vantagem se dá porque as siglas
médias têm oferecido de R$ 1 milhão a R$ 2,5 milhões dos fundos eleitoral e
partidário para cada deputado fazer campanha, enquanto o presidente pode
repassar quantia muito superior. Esse dinheiro pode ser empregado para
privilegiar redutos eleitorais dos deputados e ajudar na conquista de votos em
suas bases.
O interesse dos partidos que não têm candidato à Presidência é
eleger uma numerosa bancada parlamentar para ter acesso a uma fatia mais gorda
desses fundos.
Folhapress