Após 87 dias preso em
Brasília, Delcídio do Amaral fechou acordo de delação premiada com o Ministério
Público Federal, homologado em março por Teori Zavascki. Nos depoimentos à PGR,
ele relatou ter agido em relação à família Cerveró sob ordens do ex-presidente
Lula, interessado em blindar a si e ao amigo José Carlos Bumlai. Em entrevista
a VEJA, Delcídio afirmou que "o Lula queria parecer solidário, mas estava
mesmo era cuidando dos próprios interesses. Tanto que me pediu que eu
procurasse e acalmasse o Nestor Cerveró, o José Carlos Bumlai e o Renato
Duque".
Apesar da justificativa de
Delcídio em seu acordo de colaboração, o relator Telmário Mota observa que
"quando o senador se propõe a auxiliar na fuga de um criminoso e influir
no escorreito trabalho de um tribunal, macula não só sua imagem, mas a do
Senado". Para Mota, "não há dúvida de que Delcídio do Amaral abusou
gravemente de suas prerrogativas constitucionais".
Depois de uma série de cinco
atestados médicos apresentados para justificar ausências nas sessões do
Conselho de Ética em que teria a oportunidade de se defender, Delcídio foi
ouvido ontem na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, cujo papel
era o de apenas analisar se o trâmite no Conselho de Ética obedeceu à
Constituição, e não discutir o mérito da denúncia.
De volta ao Senado pela
primeira vez depois de ser preso, o ex-petista reiterou o conteúdo de sua
delação premiada e afirmou que agiu "a mando" ao negociar a compra do
silêncio do ex-diretor da Petrobras. "Admito meu erro e peço perdão por
isso", disse o ex-líder do governo, que argumenta não ter cometido faltas
graves o bastante para perder o mandato. "Eu não roubei, não desviei
dinheiro, não tenho conta no exterior. Estou sendo acusado de obstrução de
Justiça", pontuou. Apesar de ter citado o ex-presidente Lula como o
mandante da negociação, o senador não mencionou o petista em sua fala na CCJ.
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