A
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, na noite desta
segunda-feira (20), um acordo de cooperação internacional que visa garantir o
acesso global a medicamentos, vacinas e equipamentos médicos para enfrentar a
pandemia de coronavírus. Apenas Brasil, Estados Unidos e outros 12
países, entre os 193 membros da ONU, deixaram de patrocinar a resolução.
Normalmente, os países votam as resoluções durante encontros promovidos pelo
órgão. Devido à pandemia, a assembleia mudou as regras de votação e agora faz
circular um rascunho do documento entre os estados-membros.
Se
um único país apresentar objeções à resolução dentro do prazo de avaliação, ela
é derrubada.Cada país pode endossar a proposta como patrocinador ou
co-patrocinador. Países que não escolhem uma dessas opções mas também não
apresentam objeções à resolução estão, em tese, apoiando o texto.Na prática,
entretanto, deixar de expressar uma posição clara sobre a questão demonstra
falta de entusiamo pela causa. Neste momento de pandemia de coronavírus,
entretanto, de acordo com diplomatas ouvidos, a posição representa uma
aceitação de mau grado. Folha apurou que esse foi o caso do Brasil.
O
texto da resolução, apresentada à Assembleia Geral pelo governo do México,
"reafirma o papel fundamental" da ONU na coordenação de uma resposta
global à pandemia e "reconhece o papel de liderança crucial desempenhado
pela Organização Mundial da Saúde".Os EUA sob a liderança de Donald Trump
têm chocado com a OMS durante a pandemia. Na semana passada, o presidente
americano suspendeu os repasses feitos pelo país à instituição. Na ocasião, o
líder do país que hoje lidera o ranking em número de casos e de mortes causadas
pelo coronavírus disse que o órgão "falhou em seu dever básico e deve ser
responsabilizada".Trump disse ainda que a organização promoveu
desinformação criada pela China sobre o vírus -o que, segundo o republicano,
provavelmente levou a um surto maior do que o previsto.
Endossar
neste momento a resolução da ONU seria, então, uma medida contraditória.Apesar
de os EUA não terem apresentado objeções à resolução adotada nesta segunda, a
Folha apurou que o país buscou uma articulação com outros estados-membros para
não ser o único a deixar de endossar a resolução.O Brasil foi um dos convocados
para aderir a essa coalizão. A Venezuela, os EUA e o Brasil são os únicos
países das Américas a não patrocinar o projeto.O presidente Jair Bolsonaro
também já teve rusgas com a OMS. Em março, ele tirou de contexto fala do
diretor-geral da organização, afirmando que Tedros Adhanom Ghebreyesu tinha
voltado atrás em suas posições e defendido que as pessoas "têm que
trabalhar", contrariando assim as recomendações de distanciamento social.
A
frase completa de Tedros, na ocasião, foi: "Cada indivíduo é importante,
cada indivíduo é afetado pelas nossas ações. Qualquer país pode ter
trabalhadores que precisam trabalhar para ter o pão de cada dia. Isso precisa
ser levado em conta".O alinhamento entre Brasil e Estados Unidos frente à
resolução da ONU por cooperação internacional é mais um dos episódios em que as
posturas de Bolsonaro e Trump em relação ao coronavírus apresentam
semelhanças.Ambos estão em conflito com governadores estaduais, defendem a
reabertura da economia em um prazo que especialistas apontam como prematuro e
perigoso e minimizaram a gravidade da pandemia em suas primeiras semanas -
Bolsonaro continua nesta toada.
Procurado pela Folha, o Ministério das Relações
Exteriores disse que o Brasil se "uniu ao consenso" dos demais
estados-membros para demonstrar apoio ao texto apresentado."Informamos que
a referida resolução foi aprovada por procedimento silencioso, sem objeção da
delegação brasileira, que acompanhou o consenso dos demais países", disse,
em nota, o Itamaraty.
Além de
Brasil e EUA, Austrália, Coreia do Norte, Eslovênia, Gabão, Hungria, Irã,
Paquistão, República Democrática do Congo, Romênia, Rússia, Somália e Venezuela
também não patrocinaram a resolução da ONU. Nenhum dos países apresentou
objeções ao projeto.
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