Em um longo
texto publicado no Instagram, Lázaro Ramos, 41, disse que teve de recusar o
convite da Mangueira para ser um dos intérpretes de Jesus Cristo no desfile da
escola no Carnaval carioca de 2020. O ator afirmou que ficou
muito feliz e honrado e que recebeu muitas mensagens de apoio para que
aceitasse a proposta, "e alguns poucos questionando" a escolha.
"Mas foi uma onda de amor gigante", escreveu. Apesar disso, ele
revelou que vai trabalhar e, por isso, teve de negar o convite.
"Mas
a vida do artista é trabalhar em momentos em que a maioria das pessoas estão se
divertindo. E esse é o meu trabalho, estarei trabalhando enquanto o público
estará em folia. Infelizmente não poderei desfilar."
Ramos
também contou que ficou muito sensibilizado ao refletir sobre o convite.
"Ao me pensar como um dos Jesus, imediatamente comecei a refletir sobre
qual o sentido da mensagem de Cristo para mim e, inevitavelmente, o amor vinha
como protagonista. O rosto de quem me deu amor e que davam sentido à mensagem
de respeito, acolhimento e afeto que a historia de Cristo deixou para nós,
realmente tinham várias formas: É o rosto da minha tia-avó que me criou e
também mais 19 crianças numa mesma casa, é o rosto dos meus mestres, que me
abraçaram nos momentos de dúvida, é o rosto de um desconhecido que tocou no meu
ombro e perguntou se estava tudo bem e são tantos rostos que espalham amor por
aí fazendo jus à mensagem."
Atual
campeã, a Mangueira escolheu o enredo "A Verdade vos Fará
Livre", guiado pela voz de um Jesus carioca -"Eu sou da Estação
Primeira de Nazaré/ Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher/
Moleque pelintra do Buraco Quente/ Meu nome é Jesus da Gente/ (...)
Favela, pega a visão/ Não tem futuro sem partilha/ Nem Messias de arma na
mão". O desfile da verde-e-rosa, que será o terceiro do dia 23 de
fevereiro, será conduzido mais uma vez pelo carnavalesco Leandro
Vieira.
"A história de Jesus foi várias vezes desvirtuada
para dar conta de projetos de poder. O enredo resgata a história de Jesus e quer
pensar quem seria esse Jesus hoje", diz a sambista Manuela Oiticica, a
Manu da Cuíca, que divide a autoria da composição com Luiz Carlos Máximo.
A dupla integrou o grupo de oito compositores
de "História para Ninar Gente Grande", o já clássico
samba-enredo do ano passado, vitorioso ao celebrar o "país que não está no
retrato", lembrando a vereadora Marielle Franco, assassinada em março de
2018. Dessa vez, a crítica ao Brasil oficial assume a perspectiva de um Cristo
do morro.
"Fizemos
uma releitura com esse Jesus nascendo no morro da Mangueira e também sendo
torturado e assassinado pelo Estado, como é a realidade de muitos da juventude
brasileira. Também assassinado pelos intolerantes, pelos mercadores da fé.
Acaba sendo um bom diálogo entre o Jesus histórico e a história atual",
afirma Manu da Cuíca.
Famosidades
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