Parlamentares
da base e da oposição no Congresso pretendem explorar politicamente a prisão de
quatro suspeitos de invadir celulares de autoridades dos três Poderes,
incluindo o presidente Jair Bolsonaro. Uma das ideias é utilizar a recém-criada
CPI das fake news para interrogar os presos. A
comissão ainda não começou a funcionar. Os partidos precisam indicar os nomes
que vão integrar o colegiado, o que só deve ocorrer a partir da segunda semana
de agosto, após o fim do recesso parlamentar. O líder da bancada da bala,
Capitão Augusto (PL-SP), no entanto, já avisou que pretende fazer parte.
"E vou apresentar o requerimento para que todos os envolvidos sejam
ouvidos", disse ele à reportagem.
Um
dos focos dos parlamentares é descobrir se os ataques foram encomendados e
tiveram motivação política. Desde o início de junho, o site The Intercept
Brasil e outros veículos de imprensa têm publicado supostas trocas de mensagens
obtidas nas contas do aplicativo Telegram de integrantes da força-tarefa da
Lava Jato em Curitiba. Segundo o site, as conversas indicam conluio entre
procuradores e o então juiz do caso e atual ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Os alvos dos ataques negam irregularidades e afirmam não ser possível confirmar
a autenticidade dos diálogos. Em depoimento à Polícia Federal, Walter Delgatti
Neto, conhecido como "Vermelho", afirmou que a ex-deputada federal
Manuela D'Avila (PCdoB-RS) foi quem intermediou o contato com o jornalista
Glenn Greenwald, fundador do The Intercept Brasil. Ele disse não ter recebido
pagamento para repassar as mensagens.
"Queremos
saber de onde veio o dinheiro que foi encontrado na conta dos hackers",
disse Augusto, em referência aos mais de R$ 627 mil movimentados nas contas de
Gustavo Henrique Elias Santos e Suelen Priscila de Oliveira, outros dois presos
na Operação Spoofing.
Se os investigados forem convocados, não será a primeira
vez que a Câmara vai sabatinar presos. Em 2015, um grupo de deputados da CPI da
Petrobras foi a Curitiba ouvir alvos da Lava Jato. Anos antes, em 2012, o
contraventor Carlos Augusto dos Santos, o Carlinhos Cachoeira, foi ao Congresso
também quando estava preso, mas, amparado por um habeas corpus, ficou calado
diante dos parlamentares.
O líder do Podemos, José Nelto (GO), defende prioridade
ao assunto logo que a Câmara retomar os trabalhos. "Esse fato deve ser o
primeiro a ser discutido no colégio de líderes: quem são os mandantes, quem
ganhou, quem tá falando verdade ou mentindo?", questionou o deputado.
"Ou o Congresso age ou ficará desmoralizado."
Na lista de alvos dos hackers, o presidente do Senado, Davi
Alcolumbre (DEM-AP), também defende usar a CPI para investigar os ataques.
"Combater este crime não é dever só da polícia, o legislador também deve
colaborar com soluções e leis mais transparentes para o bem de todos. É isso
que queremos debater na CPMI que vai investigar as notícias falsas no
Congresso", escreveu o senador em seu Twitter. Além de Alcolumbre, o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi vítima dos ataques virtuais.
Bastidores do
Poder
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