A inflação
acumulada em 12 meses na Venezuela ultrapassou 1.000.000%, segundo cálculos
divulgados nesta segunda (10) pela Assembleia Nacional, de maioria opositora. É
a primeira vez que a marca é rompida desde o início da crise no país. Entre
novembro de 2017 e de 2018 o índice foi de 1.299.724%, disse o deputado Rafael
Guzmán, que integra a comissão de Finanças da Casa. No acumulado de 2018
apenas, o valor ficou em 702.521%, com um índice de 144,2% em novembro. De
acordo com o último relatório Focus do Banco Central, a previsão de inflação
para o Brasil em 2018 é de 3,71% –próximo, assim, da inflação diária na
Venezuela, de 3%. No balanço anterior, relativo a setembro, a inflação diária
na Venezuela era de 4% e, a mensal, de 233%. Parlamentares da Assembleia
Nacional, que teve seus poderes anulados pela Assembleia Constituinte chavista,
se tornaram a única fonte confiável de indicadores econômicos depois que o
regime do ditador Nicolás Maduro deixou de publicar dados há cerca de três
anos, quando a economia do país começou a entrar em colapso.
Ao
jornal local El Universal, Guzmán criticou o governo por não divulgar
oficialmente o índice de preços e disse que a culpa da crise é da
"opacidade e obscurantismo do Banco Central da Venezuela, que não apenas
segue emitindo dinheiro sem valor, mas também esconde as cifras dos
venezuelanos e do mundo".
"Nunca em um país da América Latina chegou a este
número, nunca uma hiperinflação atingiu 1.300.000%. Estes são os registros de
Nicolás Maduro: tragédia e miséria", disse o deputado.
Os números divulgados coincidem com a estimativa do FMI
(Fundo Monetário Internacional), de que a inflação em 2018 no país iria
ultrapassar 1.000.000% –a previsão mais recente é que feche o ano em
1.370.000%. Para 2019, a entidade prevê que a crise vai continuar no país e que
o índice pode chegar a 10.000.000%.
O
ano de 2013, em que morreu o presidente Hugo Chávez e o primeiro de Nicolás
Maduro no comando do país, foi a última vez que o país registrou crescimento e
o FMi prevê uma queda de 18% do PIB em 2018. A queda do preço do petróleo e uma
série de decisões do governo, como a impressão de dinheiro, aprofundaram a
crise.
Em
agosto de 2018, Maduro anunciou um pacote econômico para tentar conter o
problema. A medida incluiu o corte de cinco zeros do bolívar e levou à
desvalorização de 96% de seu valor em relação ao dólar, aproximando sua cotação
da praticada no mercado paralelo. O câmbio e outros preços fixos, como os
salários e as taxas do governo, passaram a ser indexados ao petro, moeda
virtual criada pelo regime com base no petróleo e que teve suas compras
limitadas devido às sanções dos EUA. Também mudou a política de preços da
gasolina, a mais barata do mundo, flexibilizou o câmbio, controlado desde 2003,
e chegou a fazer inspeções e prender gerentes de supermercado acusados de
aumentar os preços. Economistas, porém, criticaram a medida e disseram que ela
não seria suficiente para conter a hiperinflação que atinge o país.
A
alta dos preços é um dos motivos que levaram a um desabastecimento em diversas
regiões da Venezuela, com falta de energia, alimento e medicamentos. A crise
fez milhões de pessoas deixarem o país em direção a vizinhos, dentre eles a
Colômbia e o Brasil.
Com
informações da Folhapress.
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