A
entrevista de ontem de Willian Bonner e Renata Vasconcelos, no Jornal Nacional,
com Fernando Haddad confirmou que só os cínicos não demonstram embaraço com
perguntas constrangedoras. E o candidato do PT à Presidência da República não
pode, definitivamente, ser colocado neste rol, em que o líder absoluto, pelo
menos no mesmo programa, foi até agora Jair Bolsonaro (PSL), o presidenciável
convalescente.
Haddad saiu-se mal no
confronto. Sobretudo quando tentou colocar para debaixo do tapete uma pergunta
que não quer calar e que transformou-se no eixo dos questionamentos dos dois
apresentadores: por que o PT e seu candidato não admitem que o partido errou,
cometeu inúmeros desvios, e fazem uma auto-crítica? O petista foi para um lado,
voltou por outro e não conseguiu convencer. Nem a Renata e a Bonner nem a
ninguém.
A resposta de Haddad sobre o
fracasso retumbante do governo da correligionária Dilma Rousseff (PT), que
resultou no impeachment, foi um vexame. Colocar na conta do PSDB, um partido de
oposição que não tinha o poder lhe atribuído pelo presidenciável quando a
petista começou a se embaraçar com as próprias pernas, mostrou que o candidato,
considerado até aqui um político honrado, sofre da mesma deficiência de seu
partido em lidar com os fatos.
Não é segredo para ninguém –
mesmo para os petistas cegos de conveniência – que Dilma arrebentou o país, o
endividou absurdamente e implodiu sua base fiscal, levando às ruas, entre
outros desastres, uma onda de desemprego e desamparo como há muito não se via,
provavelmente a maior dificuldade com que o presidenciável terá que lidar, caso
logre ganhar o governo nestas eleições.
Com sua postura, no entanto,
Haddad mostrou que está profundamente adestrado pelo lulo-petismo e tem
evidentes dificuldades de avançar para além do seu conhecido receituário
político e econômico. Uma pena, porque ele é maior do que se apresentou. Se
pretendia fazer algum tipo de aceno aos mercados, dizer que veio para somar e
ajudar a tirar o país do caos econômico, o petista revelou que tem profundas
dificuldades para fazê-lo.
Não há dúvida de que ele
ainda vai crescer mais nas pesquisas, impulsionado pela vinculação com a imagem
de Lula, figura sobre a qual, aliás, não se questionou na entrevista do JN, o
que evitou maiores constrangimentos. Exatamente por não ser tosco nem pilantra,
Haddad evidenciou profunda dificuldade de encarnar o figurino do líder petista
que fala apenas para desinformados ou cegos pela idolatria, os fiéis,
esquecendo-se de todo um país.
Política
Livre
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