Na véspera
da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, marcada para
esta quarta-feira (25) no plenário da Câmara, a base governista travava uma
batalha silenciosa. De um lado, o Planalto afagava interesses de
deputados e contava com a repetição ou até a ampliação do placar de 263 votos
da primeira denúncia. De outro, um grupo em torno do presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), a fim de ampliar seu poder de barganha, buscava
construir uma vitória menos favorável ao presidente.
O tamanho do placar redimensionará a força de Temer nos 14 meses
que lhe restarão de mandato e, por isso, o esforço de seus assessores é para
que ele mantenha ou até mesmo amplie os votos da sessão de 2 de agosto, que
enterrou a acusação por corrupção passiva que tramitava contra ele. Enquanto
líderes governistas negociavam a liberação de cargos e emendas parlamentares,
deputados do chamado centrão, grupo de siglas pequenas e médias comandado por
PSD, PP, PR, PRB e PTB, e aliados ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), diziam que o governo "precisa entender que Temer terá que
reorganizar sua base aliada para continuar governando".
A pressão dos parlamentares é calculada e quer dar ao
Legislativo e ao próprio Maia o protagonismo para comandar uma agenda de
recuperação econômica do país. Nas contas do presidente da Câmara, Temer
conseguirá barrar a segunda denúncia contra ele -por obstrução da Justiça e
participação em organização criminiosa- com cerca de 30 votos a menos que na
primeira votação, mas não poderá mais contar com uma base aliada robusta para
liderar a pauta do Congresso.
Já o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirma que o
governo espera receber entre 260 e 270 votos. A sessão deve começar às 9h desta
quarta. A tensão entre Maia e Temer chegou a níveis elevados e, apesar de o
deputado tentar contemporizar o clima amargo, não deixou de provocar: "Em
política não tem amiguinho, muito menos para sempre."
O Planalto, por sua vez, agiu nos últimos dois dias para tentar
demover traições de um grupo de 40 deputados que reclamava não ter suas
demandas atendidas. Cargos no terceiro e quarto escalão e verbas para as bases
eram tratados dentro do plenário nesta terça. O Planalto, em um aceno a setores
do Legislativo, sancionou o Refis, programa de refinanciamento das dívidas com
o fisco, em negociação há meses.
Diante das benesses, o discurso do governo frente a possíveis
traições vem em tom de ameaça: o Planalto diz que o deputado que votar contra o
presidente perderá os cargos e o acesso ao Orçamento e à máquina federal. Além
das defecções, outro ponto que preocupa Temer é conseguir o mínimo de 342
deputados para abrir a votação. Ao contrário do que fez na primeira denúncia, a
oposição disse que trabalhará para adiar a sessão. Apesar das concessões, o
governo reconhece que Temer terá que redimensionar sua real coalizão após a
votação prevista para esta quarta. O primeiro impacto deve ser na reforma da
Previdência. Como se trata de uma PEC (proposta de emenda à Constituição) são
necessários 308 votos para aprovar a medida.
Com a conta apertada, até os mais fiéis ao presidente admitem
que o melhor para o Planalto é concentrar esforços em medidas que não alteram a
Constituição. "O governo deve focar em medidas que tenham impacto na
economia e não precisem de quorum de PEC", afirmou o líder do PMDB, Baleia
Rossi (SP).
Com informações da Folhapress.
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