O
Tribunal de Contas da União (TCU) decide nesta quarta-feira, 5, se
responsabiliza Joesley Batista, dono da J&F e delator de esquemas de
corrupção nos governos Lula, Dilma e Temer, por prejuízos em um negócio de US$
750 milhões com o BNDES. A corte vai julgar se uma cláusula do acordo firmado
pelo empresário com a Procuradoria-Geral da República (PGR) deve ser aplicada
ao processo que avalia perdas de R$ 120 milhões aos cofres do banco público,
livrando-o da obrigação de ressarci-las.
O
TCU identificou favorecimento do BNDES à J&F na operação para capitalizar o
grupo e viabilizar a incorporação do frigorífico americano Swift Foods, em
2007. Auditoria na transação mostra que o BNDESPar - braço do banco para a
aquisição de participação em empresas - pagou indevidamente ágio de R$ 0,50 em
ações, o que causou o dano milionário ao erário. Os auditores do TCU propõem
que os ministros da corte citem Joesley, além de gestores do BNDES e
autoridades do governo Lula, a responder pelos prejuízos. Entre eles, estão o
ex-presidente do banco Luciano Coutinho e o ex-ministro da Fazenda Guido
Mantega. Em parecer sobre o caso, no entanto, o procurador-geral do Ministério
Público de Contas, Paulo Soares Bugarin, sustenta que o empresário não pode ser
responsabilizado pelas perdas com base, exclusivamente, nas informações que ele
próprio apresentou em sua delação.
Bugarin
se baseia em trecho do acordo de delação do empresário com a PGR no âmbito
criminal. O texto permite o uso da colaboração como prova em processos cíveis e
administrativos, desde que não sirva para prejudicar o delator. A palavra final
sobre a citação de Joesley será dos ministros do TCU. O relator do processo,
Augusto Sherman, apresentará um voto com sua posição nesta quarta-feira. O
julgamento é considerado emblemático, pois servirá de parâmetro para outros
processos da J&F na corte. Até a noite desta terça-feira, o relator não
havia compartilhado o documento com os colegas de plenário. A justificativa é
de que o caso é sigiloso.
O
TCU faz auditoria em outros negócios do BNDES com o grupo. No período sob
investigação, o banco investiu R$ 10 bilhões na holding - que controla a JBS,
dona das marcas Seara e Friboi - graças à política de criar campeões nacionais
em alguns setores da economia. Em outros casos, referentes a prejuízos em obras
da Petrobras, o TCU já livrou delatores de punições em "homenagem" ao
instituto da colaboração. Um deles foi o ex-diretor de Abastecimento da estatal
Paulo Roberto Costa.
O
jornal O Estado de S.Paulo apurou que os dados da delação de Joesley serviram
de prova para implicar alguns gestores, entre eles Mantega e Coutinho. O
ex-presidente do BNDES alegou, em nota publicada sobre o caso em abril, que a
operação foi realizada "dentro da mais absoluta regularidade, tendo sido
analisada em todas as instâncias pelas equipes técnicas do BNDES". O
ex-ministro da Fazenda Guido Mantega não foi encontrado para comentar.
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