Dizer que é preciso retirar
os rurais desta conta não é apenas transferir para o Tesouro a
responsabilidade, mas é dizer que não somente os trabalhadores são obrigados a
manter a previdência para o setor da população, que nunca foi olhado e que sempre foi esquecido, esta é uma
responsabilidade de todos e quando digo todos são todos mesmo: classe política,
classe empresarial, classe operária, etc. Não podemos solucionar as questões do
Brasil continuando a punir aqueles que sustentam inclusive as regalias de um
poder público corrupto e pouco ativo quando se trata de cortar em si o mal
iniciado por ele mesmo. Quando se fala que um país como a Espanha, a Itália e
tantos outros da Europa estabelecem aposentadorias e pensões para pessoas com
67 anos, 70 anos de idade, esquece de dizer que nestes países estas pessoas não
começaram a trabalhar com 10, 11 ou 12 anos de idade.
As pessoas, nesses países,
caso fiquem sem trabalho e por anos deixem de contribuir, terão suas
aposentadorias concedidas e, ainda, serão mantidas pelo estado até este momento
chegar, de maneira que não podemos usar o direito comparado para piorar a
situação que se vive no Brasil, nivelando por cima o comparativo e nivelando
por baixo a forma de acesso aos benefícios. É preciso muito cuidado para não se
tornar cruel com quem tão cedo iniciou seu trabalho, iniciou suas contribuições
e que hoje são nossos pais e nossos avós. A viabilidade do Brasil passa por
outras importantes questões, educação adequada, reestruturação tributária,
corte de gastos públicos espalhados pela República, corrupção que envergonha a
nação, educação de qualidade, ética no serviço público.
O Estado não existe. O que
existe são pessoas e essas merecem respeito e encaminhamento para viverem bem.
Não é possível que seja transferida à população, a responsabilidade pelo
desemprego, pela inflação e, ainda pela existência dos idosos que, não são
números, são pessoas humanas que merecem respeito e dignidade.
Parece mesmo que em tempos
de crise, vale mais a fala que a reflexão, valem mais os números do que as
pessoas, vale mais a maquiagem do que o manequim. E como diria meu avô, pelo
jeitão da carruagem a coisa anda feia até pra cachorro.
Dra. Tonia Galleti é
coordenadora do Departamento Jurídico do Sindicato Nacional dos Aposentados,
Pensionistas e Idosos da Força Sindical, Mestre em Direito Previdenciário e
professora universitária.
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