- Rapaz, entrei numa
enrascada danada!... Todo tanto quiocê pensá, é mais maió ainda...
- Enrascada? O que aconteceu cocê, home de
Deus? Ocê passô mais de um mês sumido!
Isto era o papo do João Manduca com o Chico
Cobra-Preta. O primeiro com 75 e o segundo com 89 anos no costado, bem num
banquinho da Praça Raul Torres, lá no Bambuí.
- A gente se encontrava aqui
quase toda tardezinha e niquiocê sumiu, inté pensei que tivesse morrido.
- Armaria! Vire essa boca
pra lá, trem! O negóço, meu amigo, é que eu tava preso. Cê cunhece a Chica
Maracajá, aquela mocinha lá de Tabuí, que trabaia ali no posto de gasolina,
aquele da entrada da cidade? Aquela que fica fazeno carinho nos meus cabelo
causdiquê é tudo branquinho?
- Sim, sô!... Sei quem é!
- Pois num há de vê, meu
amigo, que falei pra Chiquinha quieu tinha otros cabelins branquins? E que aí
ela me acusou de estupro?
- Afff! Estupro? Ocê? Com 89
no costado? Que trem isquisito, home de Deus!...
- Cumpade cê num querdita
que fiquei foi orguioso do trem? Achei foi bão demais da conta, sô! Tão bão que
saquecofiz? Nem rumei devogado e me declarei curpado!...
- Curpado, sô? Querdito
não... Ah, meu Deus!
- Isso, meu amigo! Mas o
juiz num entendeu o meu orguio e me condenô a trinta dia de xilindró... Por
farso testemunho!... Juiz fedaputento, sô!...
Escrito por Eurico de
Andrade
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