O sonho do cidadão caipira é
conhecer a cidade grande. Cada um sente que até o seu status muda dentro da
sociedade quando fala que já foi à capital. Foi por isso que o Zé Tranquilim,
mesmo sem conhecer sua própria cidade direito, vendeu umas cabeças de gado e
se mandou pra Belzonte.
Aquele monte de prédio
caquele tantão de carros e o povão no meio da rua, fez o Tranquilim perder a
tranquilidade. Ficou foi tonto. Aí, numa hora em que sentiu necessidade de
atravessar a Afonso Pena, teve que chamar o guarda. Olhando pro Zé, com aquela
cara de mocorongo, o guarda não teve piedade.
- Atravesso o senhor... Mas
custa trinta mangos... Topa?
O Zé Tranquilim achou aquele
trem danado de esquisito e não topou.
- Ah... Coá!... Diacho de
trem caro, sô!
Ficou ali pensativo e pondo
sentido no movimento do guarda apitando pra cá e pra lá para botar ordem na
carraiada e no povo maluco. Foi nesse momento de confabulamento que parou ao
seu lado uma moça com uma camisa muito decotada e colorida, uns colares e uma
sainha chitada e curta. Na mão, uma bolsinha piquititita e no rosto um monte de
pintura, além de batão nos beiço... O Zé até que achou ela ajeitada, mas, se
fosse dele, não vestiria daquele jeito não... Aí viu que a moça ia atravessar a
rua. Ela viu também a cara de mocorongo dele e já começou a pensar maldades.
Quandefé ela olhou pra ele, deu uma piscadinha e convidou:
- Vamo?
- Quanto é, dona moça?
- Só cobro cinquentinha...
Tá bão procê?
- Virgemaria! Que trem caro!
Cuesse preço aí minha preferença é í com o guarda!
Por Eurico de Andrade
Nenhum comentário:
Postar um comentário