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sábado, 22 de agosto de 2015

Contos & Causos - Seu Delpides e os enterros



Um campeiro, lá do Apanhador, o Seu Delpides Castilho, homem muito tímido que tinha uma baita dificuldade em começar uma charla, de vez em quando, se metia nuns apuros bárbaros: era quando precisava se chegar e falar com as viúvas de seus compadres falecidos.
Da primeira vez, foi no Lageado Grande, no velório do Compadre Epaminondas. Depois de hesitar bem uns quinze minutos, que lhe pareceram anos, diante do defunto, olhando fixo prá água benta, virou-se, num repente, prá viúva e os familhares prostrados ao redor do caixão e disse: - Tudo azuli aí pessoali?
E como a pergunta não surtisse o desejado efeito de quebrar o silêncio constrangedor, ele ainda arriscou: - Mais... o quê que deu nesse pixote?
De outra feita, foi na Criúva, quando o falecido Austero Paim morreu. Chegando na sala abafada e cheirando a palheiro anoitecido, depois de dar alguns passos, pisando leve de botas novas no assoalho rangedor, para não ser muito percebido, e de uns intermináveis momentos, olhando o compadre morto, por trás dos sapatões defuntos empinados pro seu lado, e enrolando e desenrolando as abas do chapéu, ele resolveu se chegar pra viúva inconsolável e falou:
- Mais... cumadre, como foi que se deu o caso?
- Ah!, cumpadre, matou-se!
- Ããhhh... com tatuzinho?
- Não cumpadre. Carrapaticida!...
- Ah!... também é bão!
E de outra vez, novo defunto, nova viúva e o Delpides na mesma situação difícil, a suar, sem nada que lhe ocorresse pra começar a conversa com a comadre, até que:
- Mais... o quê que houve com o cumpadre?
- Pneumonia.
- Ãh!... simples ou dupla?
- Simples cumpadre.
- Ah!... teve sorte! Se fosse dupla..

Por Roberto Cohen


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