Nove em cada dez mortos pela dengue neste ano no Estado de
São Paulo eram pessoas com 60 anos ou mais –das quais 75% tinham algum tipo de
doença preexistente. O perfil foi mapeado pela Folha com informações de 130 dos
169 óbitos registrados –recorde desde 2010, quando houve 141 mortes, conforme
balanço desta segunda (4) do Ministério da Saúde. Na prática, embora
representem perto de 12% da população paulista, os idosos são 87% das vítimas
da dengue. O número de mortos é a segunda marca negativa gerada por São Paulo
durante a epidemia em 2015. O Estado também registrou recorde histórico de
casos de dengue, com 222 mil confirmações. O levantamento feito pela reportagem
nos municípios indica que, em média, as pessoas ficaram uma semana internadas
antes de morrer.
O infectologista Esper Kallas, da Faculdade de Medicina da
USP (Universidade de São Paulo), diz que alguns fatores são determinantes para
uma morte por dengue –idosos são as principais vítimas porque, na prática,
estão mais sujeitos a esses agravantes. Entre eles estão as condições gerais de
saúde da pessoa e a falta de diagnóstico rápido da doença e de medidas de
atenção ao doente, além do sorotipo do vírus que a contaminou e a quantidade de
vezes que ela foi infectada.
"A chance de um adulto saudável, que recebeu os cuidados
necessários prontamente, morrer de dengue é muito pequena. A doença vai ser
mais letal em um senhor com 78 anos, que tenha asma, ou em um recém-nascido
desnutrido", diz Kallas. Mesmo com um número recorde de mortes em SP, ele
é considerado "relativamente pequeno" se comparado a outras doenças
epidêmicas –como ebola ou sarampo.
"Apesar da perda irreparável para as famílias, com menos
de 0,1% de letalidade diante do número de casos, podemos dizer que esse índice
de morte ainda é tecnicamente baixo, algo comparável com morrer pela
gripe", afirma o infectologista.
O levantamento da Folha aponta que Catanduva (23), Sorocaba
(19), Limeira (9) e Itapira (9) lideravam as mortes por dengue no Estado. Uma
mulher de 94 anos, de Penápolis (a 479 km de SP), e uma criança de 11 anos, que
aguardava por um transplante de medula na capital paulista, eram as vítimas
mais idosa e mais jovem da doença, respectivamente, conforme as 130 mortes mapeadas.
No país, 229 pessoas já morreram de dengue este ano (74% em
SP) e 746 mil casos da doença foram notificados, alta de 234% em relação ao
mesmo período de 2014.
O ministro Arthur Chioro (Saúde) disse que o avanço da dengue
"é uma vergonha" depois do bom desempenho contra a doença em 2014.
"Não posso deixar de admitir que estamos com dificuldade com a
dengue", afirmou, durante aula na Faculdade de Saúde Pública da USP.
Ascom Força Sindical
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