Os últimos acontecimentos em torno do reajuste da verba de
gabinete da Assembleia Legislativa, a ser aprovado na sessão de hoje,
prenunciam um novo embate entre o governador Rui Costa e o presidente da Casa, Marcelo
Nilo, até com data marcada para um desfecho: agosto. Verba correspondente foi
reajustada este ano na Câmara dos Deputados, permitindo aos parlamentares
estaduais beneficiar-se com o mesmo índice. Ocorre que não havia previsão
orçamentária, e assim Nilo disse que solicitaria uma suplementação, mas acabou
concedendo o aumento mesmo com a recusa de Rui de liberar os recursos. Vale
esclarecer os principais dados numéricos da questão. Cada um dos 63 gabinetes
tem até o dia de hoje a verba de R$ 78 mil mensais para que o parlamentar
preencha livremente de dez a 30 cargos. Ao passar para R$ 92 mil esse total, a
Assembleia acrescenta cerca de R$ 11 milhões ao orçamento anual. A imprensa
registrou largamente ontem e hoje a divergência entre deputado e governador, e
a situação teve uma espécie de debate pela manhã, na Rádio Metrópole, onde o
apresentador Mário Kertész inquiriu os contendores por telefone.
Primeiro foi Nilo, que informou ter concedido o reajuste como
fruto de um “acordo de cavalheiros” com os deputados na expectativa de que haja
a suplementação até agosto, não se sabe se também na esperança de que o Estado,
até lá, tenha recuperado a capacidade de arrecadação. Se o governo se mantiver
inflexível, a Assembleia, segundo o deputado, vai tirar recursos de outras
despesas e os próprios parlamentares, que têm em seus gabinetes autonomia para
isto, farão um remanejamento para assegurar o aumento dos servidores. “Não se
trata de dinheiro para os deputados, mas para os servidores, que não têm
aumento há quatro anos”. Minutos depois, o governador Rui Costa ligou para a
emissora e nem mesmo quis citar o nome do aliado Marcelo Nilo. “Não sei como
alguém fala em suplementação num quadro de
crise”, argumentou, acrescentando que não tem “aquela maquininha de imprimir
dinheiro que o governo federal tem na Casa da Moeda e não usa porque causa
inflação”. O governador afirmou que a receita estadual no primeiro trimestre
foi inferior à de igual período do ano passado e que está “vendo com o
secretário da Fazenda” uma fórmula de organizar as finanças, dando ar de
gravidade à situação: “O que eu não quero é atrasar o salário dos servidores”. Ainda
no ar os fluidos dos recentes conflitos relativos às presidências da Assembleia
e Embasa e à vaga para o Tribunal de Contas, todos vencidos por Nilo, eis que
os chefes dos Poderes Executivo e Legislativo se bicam novamente, agora por
suplementação de recursos.
Há quatro anos, polêmica semelhante ocorreu, o então
governador Jaques Wagner resistiu, e na Assembleia chegou-se a elaborar uma
emenda constitucional que tornava obrigatório o repasse para cobrir o déficit
da Casa, mas um acordo dispensou a votação. É possível que o novo governador
queira encarar.
Por Escrito
Nenhum comentário:
Postar um comentário