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sábado, 28 de março de 2015

Contos & Causos - Por falar em lingüiça



Cinco anos após ter saído de Sete Ventos, a estudar na capital do estado, o filho daquele fazendeiro do Alto Uruguai voltava a visitar os pais. Durante este tempo fora - não vinha de visita por ter horror à vida mansada vilinha e, em dobro, à mesmice da fazenda do pai -, uma que outra carta contava da sua vida.
Deixava parecer que ia bem dos estudos - mal sabendo o pobre velho que o danado do "acadêmico" se formava mesmo em boêmia, em grandes noitadas, em amantes ocasionais e apostas no jóquei. O que fazia-o assíduo à conta corrente do velho, num banco de Porto Alegre. Não havia semana que não sacasse um bom valor. O gerente do interior alertava o pai e este, meio desconfiado mas sem deixar-se dobrar, apenas comentava: "Deixa que saque. É para os livros".
Bueno, estava o Ricardo de volta e, após um dia na casa da vila, acompanhou o pai numa visita à fazenda. Que estava melhorada, lhe adiantava o velho, com plantéis de gado-leiteiro, novos galpões, banheiro para o gado e, sobretudo - ele ia se admirar! - dotado de pequeno mas eficiente aparelhamento para fazer embutidos de carne, especialmente linguiças.
Cedo da tarde - saíram após o almoço - estavam chegando à propriedade. O velho falando pelos cotovelos, louco para mostrar as "modernidades"ao filho. Este, com ar de enfado, apenas comentou, na viagem, que estava mais que na hora do velho comprar um carro novo, coisa melhor que a velha camioneta Dodge que conhecia há anos.
Mostra aqui e mostra ali, finalmente o que o fazendeiro chamava, pretensiosamente, de mini-frigorífico.
- Olha só, meu filho, que coisa linda! Tá me dando um platal esta máquina. Tão completa que, por exemplo, se a gente põe um porco vivo lá na entrada, aqui por este canudo, em dez minutos, já sai a linguiça pronta. E então, não é uma maravilha?
O Ricardo, entediado, resolveu acabar com as alegrias do pai. E mandou:
- Oi pai. E se a gente botar uma linguiça na ponta de lá, sai um porco vivo na ponta de cá?
O pai, de repente, notou que o "guri" estava zombando dele e de seu entusiasmo. Inchou como sapo bulido e chutou de volta:
- Nesta máquina eu não sei. Mas em tua mãe botei um palmo de linguiça e nove meses depois me saiu um burro pelo buraco do entrepernas. E aí eu botei nele o nome de Ricardo!...


por Roberto Cohen

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