Cinco anos após ter saído de Sete Ventos, a estudar na
capital do estado, o filho daquele fazendeiro do Alto Uruguai voltava a visitar
os pais. Durante este tempo fora - não vinha de visita por ter horror à vida mansada
vilinha e, em dobro, à mesmice da fazenda do pai -, uma que outra carta contava
da sua vida.
Deixava parecer que ia bem dos estudos - mal sabendo o pobre
velho que o danado do "acadêmico" se formava mesmo em boêmia, em
grandes noitadas, em amantes ocasionais e apostas no jóquei. O que fazia-o
assíduo à conta corrente do velho, num banco de Porto Alegre. Não havia semana
que não sacasse um bom valor. O gerente do interior alertava o pai e este, meio
desconfiado mas sem deixar-se dobrar, apenas comentava: "Deixa que saque.
É para os livros".
Bueno, estava o Ricardo de volta e, após um dia na casa da
vila, acompanhou o pai numa visita à fazenda. Que estava melhorada, lhe
adiantava o velho, com plantéis de gado-leiteiro, novos galpões, banheiro para
o gado e, sobretudo - ele ia se admirar! - dotado de pequeno mas eficiente
aparelhamento para fazer embutidos de carne, especialmente linguiças.
Cedo da tarde - saíram após o almoço - estavam chegando à
propriedade. O velho falando pelos cotovelos, louco para mostrar as
"modernidades"ao filho. Este, com ar de enfado, apenas comentou, na
viagem, que estava mais que na hora do velho comprar um carro novo, coisa
melhor que a velha camioneta Dodge que conhecia há anos.
Mostra aqui e mostra ali, finalmente o que o fazendeiro
chamava, pretensiosamente, de mini-frigorífico.
- Olha só, meu filho, que coisa linda! Tá me dando um platal
esta máquina. Tão completa que, por exemplo, se a gente põe um porco vivo lá na
entrada, aqui por este canudo, em dez minutos, já sai a linguiça pronta. E
então, não é uma maravilha?
O Ricardo, entediado, resolveu acabar com as alegrias do pai.
E mandou:
- Oi pai. E se a gente botar uma linguiça na ponta de lá, sai
um porco vivo na ponta de cá?
O pai, de repente, notou que o "guri" estava zombando
dele e de seu entusiasmo. Inchou como sapo bulido e chutou de volta:
- Nesta máquina eu não sei. Mas em tua mãe botei um palmo de
linguiça e nove meses depois me saiu um burro pelo buraco do entrepernas. E aí
eu botei nele o nome de Ricardo!...
por Roberto Cohen
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