Segundo Dowbor, que se
formou em economia na Suiça e presta consultoria para a Organização das Nações
Unidas (ONU), o sistema financeiro não gera riquezas porque não fomenta a
produção, já que seu ganho principal vem dos juros. Nesse sentido, o Brasil é
um país que oferece ganhos excepcionais graças ao mecanismo da Selic, a taxa
básica de juros. Ele lembrou que no governo Fernando Henrique Cardoso o Brasil
chegou a pagar 47% ao ano de juros pelos seus títulos. “Se você considera que o
banco usa o dinheiro de terceiros que nele depositam suas economias em troca de
uma remuneração de 8% ao ano, percebe o tamanho do rendimento que o banco tem,
apenas usando o dinheiro que não é dele”.
O professor lembrou que os
juros do cartão de crédito no Brasil chegam a 260% ao ano, enquanto nos Estados
Unidos estão em 17% e já são considerados altíssimos. “O banco não é uma coisa
ruim, porque promove o investimento. Na Alemanha, por exemplo, 60% da poupança
estão em pequenos bancos muncipais. Mas aqui no Brasil, o retorno dos bancos é
pelo sistema Selic. Porque o governo retira dos impostos para remunerar os
bancos”. Perguntado sobre o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB),
Ladislau Dowbor respondeu que o que faz a economia crescer é o bom gasto do
dinheiro e que, nesse sentido, as politicas públicas implantadas na última
década foram fundamentais para manter o desenvolvimento do país, apesar do PIB
pequeno. O tamanho do PIB, disse ele, só revela o montante do dinheiro usado e
não a qualidade desse uso. E citou como exemplo o dinheiro gasto pelos Estados
Unidos para recuperar a região do Golfo do México, afetada pelo vazamento de
petróleo, que aumentou o PIB americano naquele ano. Em contrapartida, destacou
que a Pastoral da Criança investe apenas R$ 2 por criança para combater a
desnutrição infantil e isso não contribui para aumentar o PIB.
“Gastos com catástrofes
aumentam o PIB, a criminalidade aumenta o PIB, porque eleva o consumo de equipamentos
de proteção.” Dowbor lembrou que outros países, inclusive os europeus, estão
usando indicadores para medir o desenvolvimento que não se baseiam apenas na
quantidade de dinheiro, mas na qualidade de vida que os gastos proporcionam,
“uma espécie de Indice de Felicidade Bruta”.
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