Em pleno
avanço do novo coronavírus, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta,
começou a ser esvaziado pelo Palácio do Planalto. A presença do presidente Jair
Bolsonaro nos atos de domingo, 15, atropelou todo o discurso do ministro de
enfrentamento à doença e desautorizou uma de suas principais medidas, de evitar
aglomerações.
Nas
redes sociais, onde o ministro encontra apoio até de opositores de Bolsonaro,
Mandetta foi aconselhado a mostrar contrariedade, pedindo demissão. Na última
semana, a presença de Mandetta em entrevista coletiva ao lado do governador de
São Paulo, João Doria (PSDB), adversário do governo, também incomodou o
presidente. O grupo de Bolsonaro diz que o ministro deveria ter dado mais
crédito ao presidente pelas medidas anunciadas.
Ao
mesmo tempo que contraria Mandetta, Bolsonaro tenta tirar dos bastidores o
contra-almirante da reserva Antonio Barra Torres, um médico bolsonarista que
foi colocado no comando da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
para, entre outras missões, impedir a liberação do plantio de maconha, no que
foi bem-sucedido. É para o contra-almirante que Bolsonaro telefona e se
consulta sobre assuntos de saúde. Neste ano, ele já esteve cinco vezes no
gabinete de Bolsonaro para encontros individuais; Mandetta foi apenas duas,
conforme a agenda pública. O diálogo do oficial com o presidente flui por
afinidades como mundo militar, motos e armas.
No
domingo, o presidente da Anvisa acompanhou Bolsonaro na manifestação de rua
contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal e a favor do governo. A
presença dele foi usada pelo Planalto como uma chancela à decisão do presidente
de participar do ato, mesmo com recomendação contrária de Mandetta a
aglomerações e de médicos. A atitude de Torres causou perplexidade entre
autoridades da área de saúde. Servidores da Anvisa lamentaram, em nota, a ida
do seu chefe ao ato.
Após
a aparição pública do presidente, quando ele já era fortemente criticado,
Mandetta declarou que as aglomerações eram um "equívoco" diante do
avanço da doença no País. Desde os primeiros casos confirmados da doença,
Bolsonaro e o ministro da Saúde apareceram juntos apenas uma vez. Foi na última
quinta-feira, 12, durante uma live no Alvorada, quando usavam máscaras. No dia
seguinte, Mandetta estava ao lado de Doria. Se dentro do governo Mandetta
enfrenta desconfiança, fora dele tem recebido elogios até de adversários de
Bolsonaro. Em 5 de fevereiro, quando a preocupação com o coronavírus chegava ao
Brasil, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso postou no Twitter que
Mandetta "mostrou equilíbrio" e disse que "é disso que outros
ministros precisam, não de ideologias de gênero, raça ou do que seja".
Mandetta
chegou ao ministério apoiado pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, e o
ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, seus colegas no DEM. Ao mesmo tempo,
mantém relação amistosa com outras figuras do seu partido como os presidentes
da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (RJ), atualmente um dos maiores críticos
de Bolsonaro, e do Senado, David Alcolumbre (AP).
O ministro da Saúde nunca integrou o grupo próximo de
Bolsonaro nem comprou pautas ideológicas. No fim do ano passado, Mandetta
chegou a confidenciar a antigos colegas da Câmara que trocaria o cargo no
governo por uma candidatura a prefeito de Campo Grande (MS). No mesmo período,
o chefe da Anvisa dizia a aliados que estava cotado a assumir a pasta da Saúde.
As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.