Grupos que
organizam a manifestação convocada para o dia 15 de março em defesa do
presidente Jair Bolsonaro e contra o Congresso estão divididos sobre as
bandeiras que serão levadas às ruas. De um lado, apoiadores da família do
presidente pressionam para que o mote do protesto seja apenas "somos todos
Bolsonaro". Defensores da Lava Jato, no entanto, querem usar o ato para
pressionar os políticos a aprovarem mudanças na lei para permitir a prisão após
condenação em segunda instância. A divergência levou a uma troca de ataques nas
redes sociais. Bolsonaro enviou, de seu telefone, vídeos
fazendo convocação para o ato, como mostrou na terça-feira o site BR Político,
do Grupo Estado.
Integrantes
de grupos como o República de Curitiba, que tem 432.605 seguidores, estão sendo
atacados por defender também a agenda do ministro da Justiça, Sérgio Moro.
"Alguns grupos têm feito pressão para que não entrem outras pautas além da
defesa do Bolsonaro, mas entendemos que a prisão após a segunda instância
também é uma pauta do governo. Como não temos filiação partidária, não entramos
nestas questões", disse Paulo Generoso, coordenador do República de
Curitiba, um dos grupos pró-Lava Jato. O grupo foi acusado nas redes sociais
pelo Movimento Conservador, que tem 101.483 seguidores, de estar
"sabotando" a pauta única. Ligado ao Aliança pelo Brasil, partido que
Bolsonaro tenta criar, o Avança Brasil, com 1,7 milhão de seguidores, também
rejeita incluir a prisão em segunda instância na manifestação.
"O
objetivo é mostrar apoio das ruas ao presidente. A manifestação não tem que
entrar na prisão em segunda instância", disse Patrick Folena, coordenador
do grupo. A mesma linha é defendida pelos parlamentares bolsonaristas. "A
pauta é única: apoio ao presidente e defesa da Constituição, que prevê o
presidencialismo", disse o deputado Filipe Barros (PSL-PR).
Remanescentes do movimento que levou milhões de pessoas
às ruas pelo impeachment de Dilma Rousseff, grupos como o Vem pra Rua e o
Movimento Brasil Livre (MBL) não aderiram à convocação para os atos. Eles
defendem a prisão após segunda instância e o pacote anticrime de Moro, mas se
negam a apoiar o Palácio do Planalto.
Mesmo
após a polêmica causada pelo vídeo compartilhado por Bolsonaro no qual um
narrador faz uma apelo dramático para a manifestação, os organizadores dos atos
mantêm o discurso duro em relação ao Congresso Nacional e elegeram os
presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre
(DEM-AP), como alvo. Eles negam que defendam o fechamento das duas Casas e
evitam pedir a saída de Maia e Alcolumbre, mas criticam o Orçamento impositivo,
que foi promulgado pelo Congresso em junho. Ele determina a execução
obrigatória de emendas parlamentares de bancada.
"Dia
15 estaremos nas ruas de todo o Brasil, defendendo um Congresso forte, composto
por homens de bem, por políticos que entendam que os direitos do Legislativo
cessam onde começam os do Executivo e do Judiciário. Nós não queremos Executivo
fazendo leis, nem Legislativo nem Judiciário governando, mas todos se limitando
às suas funções", diz o manifesto do Nas Ruas, grupo fundado pela deputada
federal bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP).
"Faço parte da ala governista. O que é importante
salientar é que uma ação do Congresso quer levar o governo ao erro, fragilizar
o governo politicamente a partir de janeiro de 2021", afirmou o deputado
federal Luiz Philippe de Orleans Bragança (PSL-SP), defensor de Bolsonaro e
integrante de movimentos de rua alinhados à direita.
Já
movimentos e partidos de oposição ao governo Bolsonaro decidiram ontem convocar
manifestações no País contra o que classificam como manifestações autoritárias
do presidente. O tema será "Ditadura Nunca Mais" e a ideia é
concentrar as mobilizações no dia 18 de março.
O calendário e o mote foram decididos em reuniões entre
as nove centrais sindicais e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que
reúnem centenas de movimentos sociais.
As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.