Estive analisando alguns textos essa semana e me peguei a pensar: porque
só agora o Governo do PT resolveu contratar médicos estrangeiros para
colocá-los em localidades onde não existe nenhuma básica pra qualquer
profissional trabalhar. Porque só agora, depois das manifestações nas ruas,
onde o povo pediu por mais saúde, mais educação e mais segurança pública é que
o governo do PT que está a quase 12 anos no poder resolveu se mobilizar e
atender a essa massa de brasileiros que não tem o mínimo em setores essenciais,
uma vez que são esquecidos pelos poderes públicos?
Parece-me, mais uma vez, repito uma jogada de marketing para alavancar a
popularidade combalida deste governo, assacado por diversas denúncias de
corrupção, que cala diante de mensaleiros e que é leniente com todas as mazelas
que atingem as camadas mais pobres da população brasileira. Mas para desviar o
foco das atenções – já se vão meses sem que os mensaleiros condenados pela
Justiça tenham sequer passado na porta de um presídio, ou que aliados presos
são absolvidos pelo Congresso Nacional – os médicos são os “vilões”, a bola da
vez, como se diz popularmente.
O discurso oficial é tentar fazer com que a população acredite que são
os médicos que abandonaram o povo, traindo o juramento a Hipócrates, e não o
governo. Passados 12 anos deste governo, porque não investiram na
interiorização da saúde, construindo hospitais, ampliando leitos, levando
equipamentos e profissionais, enfim, qualidade ao interior do Estado? Agora se
insurgem contra os médicos, como se a culpa pela falta de infra estrutura fosse
nossa. Sim, também sou médico. Porque somente agora é que descobriram que, no
interior, existem grandes vazios necessitando de profissionais da saúde?
Será que o “desprezo” dos médicos pelo brasileiro, pelo país, pelos
menos favorecidos é tão grande que não existe apenas um de nós que queira se
aventurar a ir para os rincões mais distantes, sem a menor condição de trabalho
para, abnegadamente, ver seus pacientes morrerem por falta de estrutura para
prestar um atendimento razoavelmente digno?
Vêem-se nos grandes centros o abandono dos hospitais públicos, lotados,
com pacientes deitados no chão, se espaço, morrendo nas filas, imagine o que
não está acontecendo nos rincões mais distantes que nem hospital público
existe. Porque - insisto nessa questão – o próprio governo financia ônibus e
vans para o famoso programa TFD (tratamento Fora do Domicílio) fazendo com que
as rodoviárias são os principais mecanismos de assegurar tratamento digno a
população interiorana? Com esse TFD, o governo não reconhece que a
interiorização da saúde não existe? E a falha é dos médicos que não querem ir
para o interior?
Outra questão chama nossa atenção: Porque esses profissionais
estrangeiros estão vindo trabalhar no Brasil sem os mesmos direitos
trabalhistas de qualquer cidadão nato, e, principalmente, sem passar pelo teste
que qualquer médico formado no exterior faz ao querer trabalhar em nosso país
para revalidar o diploma, o Programa Revalida? Receio de submeter esses médicos
às rígidas normas de conhecimentos sobre educação e saúde de nosso país? Não
consigo entender. Respeito todos os profissionais, de todas as áreas, que se
habilitarem a nos ajudar a construir nosso país. Mas só não entendo porque esse
tratamento diferenciado para uns. O governo se responsabilizará por tudo o que
venha a ocorrer com os pacientes desses médicos que não foram testados pelo
próprio governo? Eis a questão!
Heraldo Rocha
Ex-deputado estadual, médico, vice-presidente estadual e presidente
Municipal do Partido Democratas de Salvador